Suas decisões são racionais ou aleatórias?
O quanto você acredita na racionalidade de suas decisões? Elas são baseadas em critérios bem pesados e testados? São fundadas em sua sólida experiência ou você simplesmente escolhe aleatoriamente um dos caminhos a trilhar? Tenho certeza que você respondeu pertencer a pessoas do primeiro grupo. Na verdade, quase ninguém admite estar no segundo grupo, ainda que em algum nível todos estejamos.
Todos gostamos de ter controle total sobre nossos atos e decisões. Na verdade, o ser humano não responde bem ao acaso e ao imponderável. No livro "O Andar do Bêbado", seu autor Leonard Mlodinow explana deliciosamente sobre o assunto, aplicando o tema ao nosso dia a dia, aos esportes e ao cinema por exemplo.
Recentemente, sofri de eczemas (inflamações na pele) que me incomodaram por uns bons dois meses. Fui a dois dermatologistas de uma mesma clínica. A primeira me recomendou corticóides potentes por nada menos que 40 dias, além de pomadas de uso tópico, proibindo banhos longos e muito quentes e piscina. Ela atribuiu a causa do mal provavelmente ao tempo frio (sic). Não gostei do diagnóstico e fui ao segundo dermatologiasta. Este me recomendou apenas hidratantes diários e nem sequer citou o afastamento das piscinas. Ele admitiu que a causa não é tão simples de diagnosticar, atribuindo cerca de 50% das causas à razão desconhecida. Sem levar a questão médica em si, fico impressionado como um mesmo conjuntos de informações (análise clínica) gera decisões tão díspares (diagnósticos e tratamento).
Mlodinow nos brinda com casos reais onde nossa experiência pode estar maculada de noções falsamente confiáveis. Por exemplo, você pode até acreditar que seu filho constuma melhorar em determinada matéria depois de um castigo ou bronca dados em momentos estratégicos, geralmente após um desempenho ruim em uma prova. Essa impressão se reforça quando você o elogia pelos bons desempenhos e percebe uma queda de desempenho. Por intuição, você acaba concluindo que o método militar de gritos e xingamentos enérgicos para reprimir desempenhos baixos são mais eficiente e acaba adotando a metodologia para todo sua prole. Decisão correta baseada em experimentos ou mais um equívoco de nossa mente?
Experimentos com animais demonstram o contrário. Incentivar e elogiar gera efeitos mais efetivos e são mais eficientes que castigar ou punir atos desvirtuosos. Então, como fica a nossa experiência pessoal no caso citado?
Mlodinow conta como o ganhador do PRÊMIO NOBEL DE ECONOMIA de 2002, Daniel Kahneman explicou o fenômeno. Ele atribuiu esta decisão falsamente racional ao que chamou de REGRESSÃO À MÉDIA. Funcionaria assim no caso que ilustramos: O desempenho de seu filho tende a ser constante, de forma que, aos poucos, ele vai melhorando e, uma eventual experiência isolada, por exemplo uma prova, pode não ser significativa para avaliar o seu desempenho geral e normal. Contudo, se dermos uma bronca quando ele for mal, há uma tendência natural e independente da sua bronca de que ele volte a média, produzindo uma falsa sensação de melhora. Na realidade, esta melhora pode não ter acontecido de fato, mas apenas houvera um retorno natural da criança ao seu desempenho normal. Por outro lado se elogiamos um ótimo desempenho, ao retornar à média ela acaba deixando uma impressão de ter piorado em função do elogio. Na verdade, a tendência seria que ele regressasse à média e não mantivesse por muito tempo o seu desempenho excelente.
Exagero? Pois, Kahneman foi duramente criticado por instrutores de caças, durante uma palestra, onde muitos se recusaram incisivamente em elogiar os bons desempenhos de seus alunos alegando justamente que as broncas geravam melhores resultados nas performances dos vôos subsequentes e, por outro lado, os elogios tendiam a piorar a qualidade destes. Na verdade, foi este caso aleatório que impulsionou Kahneman a estudar o assunto que o tornaria mais tarde o ganhador do Prêmio Nobel de Economia, mesmo sem ser economista.
Por isso, fique atento quando especialistas como médicos, críticos, cientistas, instrutores, políticos, economistas, analistas de toda sorte dentre outros profissionais confiáveis chegam a "conclusões inequívocas", pois pode haver uma boa dose de aleatoriedade baseada em experiências pessoais envolvidas.
Se a indecisão é um problema para você, tente isso:
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