Realidade na real - parte 2 - o paladar e o olfato
E o paladar? Você sabe o que é gostoso, salgado, doce, ácido, desagradável e estragado, bastando que coma um pedacinho de um alimento. Associado ao olfato, muitas vezes nem colocamos um alimento passado ou vencido na boca já que detectamos sua condição precária de conservação só pelo cheiro desagradável dela.
Já observou os animais carniceiros? O urubu e a iena comem restos de animais putrefatos, cheios de vermes e infestados de culturas de bactérias maiores que a população mundial. Você pode ter perguntado como estes seres suportam o cheiro de tais alimentos, o que dirá do gosto. Como podem comer algo que cheira mais a enxofre do que o próprio capeta?
A ciência atribui propriedades aos materiais ou matéria. O grupo de propriedades que são percebidos por nossos sentidos são chamados de organolépticas. Estas propriedades, a meu ver, nem deveriam ser chamadas de propriedades, pois variam de seres para seres e até mesmo podemos admitir variações dentro de representantes de uma mesma espécie. O cloreto de sódio ser salgado seria uma das suas propriedades pois nossos sentidos assim o rotulam.
Na verdade, os sabores e cheiros seriam ilusões que gerariam sentimentos de prazer ou repulsa segundo programações cerebrais que atribuiriam prazer para substâncias supostamente benéficas e sensações desagradáveis para as eventualmente prejudiciais. No caso do ser humano perceba que os alimentos doces nos trazem prazer. Este fato se relacionaria de que estes alimentos são geralmente muito energéticos, fator fundamental para a sobrevivência de um corpo que deve manter sua temperatura constante haja chuva ou haja sol. Nada mais estratégico do que o cérebro nos mandar mensagens de satisfação quando comemos algo doce. O amargo, por sua vez, costuma causar uma repulsa extintivamente. Podemos considerar que muitos venenos são amargos e nossa interpretação primária de algo venenoso seria um amargor intenso o que nos faria, no mais das vezes, cuspir longe o que comemos. Lembro que quando criança eu teria achado um comprimido vermelho (não era a pilula de morpheus) entre as almofadas dos sofá e não tive dúvida de, mais rápido do que eu encontrei, mandar aquele "MM" para dentro da boca. Instantaneamente e para minha surpresa minha boca foi invadida de um amargor inacreditável. O "MM" ou o que restou dele voou em um borrifo salpicando todo o sofá de pedacinhos branco e vermelho e saliva.
O urubu e a iena, quando consomem avidamente carne podre, tenha certeza que o fazem com intenso prazer e o sabor que estão sentindo é tão particular que nunca saberemos como é.
Em Matrix há uma passagem interessante em que, ao comerem aquela gosma alimentícia com "tudo que o corpo necessita", um dos despertos questiona como as máquinas poderiam saber o sabor dos alimentos e introduzí-los em programas. Se elas nunca foram humanas como poderiam inferir sabores? Questão interessante.
O paladar humano é um dos paladares do mundo animal mais aguçado que existe. Nossa sensibilidade gustativa nos permite detectar sutilezas que, supostamente, nenhum outro animal poderia perceber. Isso explicaria nossos enólogos esnobes ou chefes de cozinha renomados. Sempre achei muito interessante quando um crítico de vinhos diz que o vinho tem sabor intenso, frutado e honesto com notas florais e de tabaco e boa persistência no paladar, o bouquet predomida frutas silvestres amadeiradas e suaves e tons de chocolate. Quando tomo o mesmo vinho eu concluo: os níveis de sensibilidade de paladares são diferentes, e olha que nem fumante eu sou.
Não raro, ex-fumantes são premiados com quilos extras por conta do maior consumo alimentar devido a terem percebidos os sabores dos alimentos.
Em suma, difícil atribuir sabores e aromas como propriedades se as criaturas interpretam cada um a sua maneira os componentes químicos presentes nos materiais. O sabor é algo criado pela nossa mente pautada em nossa sobrevivência. Por isso, por mais que tentemos sempre teremos uma tendência a gostar dos sabores programados em nossos cérebros como agradáveis. Lutar contra isso equivale a lutar contra a evolução de milhões de anos. É uma briga feia mas não impossível de se ganhar desde que entendamos os mecânismos envolvidos.
Para se alimentar melhor
http://www.alimentacaofitnessguia.vai.la
Comentários
Postar um comentário