A comida da Matrix - será que comemos algo muito diferente?



As cenas com ação estonteante e cheias de efeito especiais de Matrix são realmente fantásticas, mas algumas das cenas do cotidiano dos despertos superam as expectativas pois possuem conteúdo filosófico profundo.
A cena em que o grupo se alimenta da gosma com "tudo que o corpo precisa", talvez excetuando-se o sabor, é antológica. O alimento servido para aqueles que estão fora da matrix se resume a algo como um repositor lipo-proteico-vitamínico enriquecido com minerais que fornece os itens básicos para o funcionamento corporal. Grande probabilidade de muito destes componentes serem sintéticos ou transgênicos. O período é de guerra e provavelmente seu alimento é processado por alguma máquina que não pode se dar ao luxo de cozinhar como um renomado chef francês. Na verdade, parece que a comida servida é pior do que a vista em "2001 Uma Odisséia no Espaço" de Stanley Kubrick. Pelo menos em "2001" os tripulantes das naves comiam a sua pasta com apetite aparente.
Parece que aqueles que saem da matrix não podem mais "comer" a comida normal pelo simples fato de que ela não mais existia. Claro que, na verdade, ninguém nunca de fato "comeu" a comida simulada dentro da matrix, ou seja, ela só existia na mente de cada um dos humanos em hibernação. Os tripulantes da Nabucodonosor chegam a questionar se o sabor dos cereais matinais que comiam quando estiveram dentro na matrix realmente tinha o gosto dos extintos "sucrilhos" da antiga Terra, afinal, como a máquina poderia simular uma coisa que ela, em tese, nunca conhecera, no caso, o sabor dos cereais matinais?
No nosso mundo, talvez esteja ocorrendo o contrário do universo Matrix. O que nos chega através da indústria alimentícia é simplesmente tudo o que sempre desejamos: sabor e prazer. Os transgênicos não fornecem tudo o que o corpo precisa pelo simples fato de que o foco da mutação induzida não é a saúde humana precipuamente, mas a durabilidade, alta produtividade, resistência a pragas, em suma, fatores que favorecem basicamente a venda lucrativa do produto cultivado. Pode ser que um ou outro induza a um câncer; mas, enfim, não podemos ter tudo não é mesmo? Imagino que se o foco dos estudos e desenvolvimento dos alimentos alterados geneticamente fosse nossa saúde, é bem provável que estivéssemos comendo bacon com ovos, sanduíches de salame com queijo, bolo de chocolate e refrigerante à vontade sem prejuízo a nossa saúde, mas, muito pelo contrário, com prováveis benefícios para ela. A questão é o foco. E o foco nunca foi a saúde humana em se tratando de uma indústria capitalista.
E os sabores? Bom, para nos convencer a consumir tantos elementos químicos, emulsificantes, estabilizadores, conservantes e corantes intragáveis e mal cheirosos só mesmo alterando o sabor real destas tranqueiras para algo que não só nos dê prazer mas até vicie nosso paladar. O açúcar e sal refinados são dois grandes capangas desta máfia. Doses cavalares destes venenos são embutidos nos alimentos para torná-los palatáveis. Uma variedade enorme de gorduras vegetais são incorporadas para viciar nosso paladar, afinal, nosso extinto natural nos faz ávidos por gordura.
Quando andávamos por aí, na aurora da humanidade, os alimentos disponíveis eram escassos, pouco nutritivos e até difíceis de digerir, mas havia uma grande vantagem: o McDonalds não existia. A nossa sobrevivência se baseava em encontrar alimentos ricos em calorias. Esses eram os melhores. Os que consumiam alimentos mais energéticos como gorduras e açúcares tinham, provavelmente, mais chance de sobreviver do que aqueles que conseguiram apenas um pé de couve ou raízes amargas. Nosso cérebro então se convenceu sabiamente que deveríamos achar os doces e gorduras muito mais gostosos do que uma folha de rúcula, de forma que nossa busca por alimento se focasse no que compensasse a perda calórica dispendida na procura. Naquela época, nossa alimentação não tinha muita regularidade e era basicamente extrativista. Os primeiros humanos comiam o que encontravam e decidiam o que comer baseado no sabor. Engordar era um privilégio, pois deixava os sortudos gordinhos mais aptos a suportar os frequentes e longos períodos de escassez. Poderíamos dizer então que nosso cérebro está moldado para gostar de certos sabores.
O lado ruim da história é que a indústria alimentícia descobriu isso. Assim, ela consegue nos fazer comer as coisas mais inimagináveis desde que introduza um sabor artificial, geralmente não condizente com o conteúdo alimentar ingerido.
Um bom exemplo é o queijo ralado tipo parmesão. Você sabia que comprar uma peça inteira para ralar em casa é de forma geral mais caro do que comprar o mesmo peso do queijo já ralado e embalado individualmente em saquinhos de 100 gramas? A conta não fecha se considerarmos que a indústria tem que pegar a mesma peça de queijo, ralar e embalar a cada 100 gramas. Um milagre industrial faz com que todo esse processo adicional torne o queijo em saquinho mais barato que adquirir a peça bruta! Para descobrir o segredo basta ler os ingredientes registrados no saquinho. O que compramos não é só queijo parmesão ralado, mas comemos também algo que não é queijo e deve participar em peso de um percentual que não vem registrado. A dúvida que vem é o que estaríamos comendo, já que vários dos ingredientes impressos no rótulo não é nada claro para quem não é do ramo alimentício. Outra pergunta que vem à cabeça é quanto desta "outra coisa" estamos comendo como queijo de fato. Veja que estou supondo que este componente é inócuo para nossa saúde, digo não cheira nem fede, mas não me senti mais confortável com esta suposição... 
O tema é cabeludo e pode acreditar que a maioria destes cabelos estão na sua sopa. Voltarei a falar disso em breve.

Para quem quiser aprender comer melhor:
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