Realidade na real - o tato

Você confia nos seus sentidos? Acredito que sim, afinal foram eles que ajudaram na sua sobrevivência até agora. Nada mais justo. Contudo, afirmar que eles merecem credibilidade quanto à fidelidade da imagem no seu cérebro...Bom, aí há controvérsias. Mas sejamos justos, o cérebro conspira com seus sentidos. Vejamos o tato.
Sensações de frio e calor são reais? Claro que são! Você diria categoricamente, afinal tomar aquele cafezinho frio é uma tristeza, já um chocolate quente no inverno, humm... Na outra ponta da história, experimente pegar o ferro elétrico com a mão quando você acidentalmente esbarra nele e o derruba da tábua de passar. Eu fiz esta besteira e a marca em "V" que ficou na palma de minha mão confirma que o ferro estava bem quente. E o isopor? Experimente tocar em algo feito de isopor. Pode ser a caixa onde você guarda as cervejas e gelo nas festinhas na sua casa. Já tocou? Então ele é quente ou frio? Agora encoste em uma pia de mármore ou granito. Melhor ainda coloque a mão em uma superfície de metal, alumínio se possível. Então, ele é frio ou quente? E aquele cachecol guardado no armário cheirando à naftalina? Pode até ser feio, mas se você encosta a mão... é bem quentinho... E o sol, o gelo, um ferro em brasa, o estetoscópio do médico, uma piscina no inverno, chimarrão? Você saberia dizer também se são quentes ou frio? Imagino que sim. Mas, infelizmente, suas sensações de frio e quente no que tange a realidade é um simulacro. Poderíamos dizer que estas sensações são parâmetros que seu cérebro estipulou para protegê-lo de hipotermia, para impedir que se queimasse fazendo "letras" em sua pele com ferro de passar, mas fundamentalmente para manter sua temperatura constantemente em aproximadamente em 36,5º, com uma pequena variação devido a momentos do dia, sono, estresse, prática de esporte... Bom, seu cérebro estipulou que qualquer temperatura muito acima disso é prejudicial para seu equilíbrio térmico e algumas podem danificar sua pele em vários níveis, por exemplo fazendo "V" na sua mão ou mesmo induzindo a deformidade e perda tecido ou órgãos, queimando literalmente a sua carne. Assim, as temperaturas acima desse marco corporal julgamos como quente. Abaixo deste marco, começa a ficar morno e muito abaixo frio ou gelado. Isso se deve porque somos seres chamados de homeotérmicos, ou seja, temos que manter nossa temperatura corporal constante para garantir suas funções. Assim, se pegarmos sapos ou cobras que, ao contrário, não mantém uma temperatura constante corporal, ou seja, seu corpo entra em equilíbrio térmico como o ambiente, a coisa muda muito. Se pudéssemos entrevistar um sapo no calor ou no inverno este nos diria que nem sabe o que é tempo frio ou quente. Na verdade, no frio suas funções metabólicas caem e ele fica mais parado e inerte, quase em hibernação. Mas frio mesmo como conhecemos, provavelmente, ele não sente. A realidade do sapo não distingue climas quente ou frio como sensação, mas como consequências de funcionamento de seu corpo. Imagine, se assim fôssemos. Não sentiríamos frio nas manhãs frias de inverno e mais, teríamos que esperar aquecer o suficiente para o metabolismo ficar satisfatório e finalmente ir trabalhar! Poxa, até que não seria muito ruim.
E o que seria este equilíbrio térmico em que o corpo do sapo tende a entrar? Os materiais que estão expostos no meio ambiente, se não possuírem outras fontes de calor, tendem a ficar da mesma temperatura do ar que o circunda. É por isso que colocamos uma torta na janela para esfriar. Ela esfria até chegar na temperatura do ambiente.
Aí entra o isopor, o vidro,  o metal e o cachecol velho. Eles não eram quentes e frios pelo nosso julgamento? Ora, mas eles estão no meio ambiente e não possuem outra fonte de energia. Então, como o isopor e o cachecol são mais quentes e o vidro e o metal são mais frios. A resposta é simples. Eles não são. Sua mente "mente" para você que acaba por acreditar que os materiais tem temperatura diferente mesmo estando eles em equilíbrio térmico.
Acontece que você possui fonte de calor própria e por isso não está, normalmente, em equilíbrio térmico. Consequentemente, você irradia calor e seu corpo repõe este calor continuamente. Não é à toa que temos que nos alimentar constantemente. Haja energia para queimar!
Mas voltando à falsa noção de realidade no tocante ao calor e frio dos objetos, o que está ocorrendo é condução de calor. Veja que quando seguramos um metal ele não é mais quente ou mais frio que outro objeto, mas na realidade ele é mais condutivo termicamente. Explicando melhor, ele conduz melhor o calor e assim, ele rouba nosso calor pois está tentando entrar em equilíbrio térmico conosco. Como ele rouba nosso calor rapidamente, o corpo nos avisa deste "insulto" nos dando uma impressão de frio na mão, pois estamos perdendo calor muito rápido (se a perda calórica perdurasse poderíamos entrar em estado de hipotermia). O isopor e a lã, ao contrário, são bons isolantes térmicos, ou seja, quando nosso calor entra em contato com estes materiais ele fica bloqueado, acabando por se acumular rapidamente na superfície de nossa pele e a camada de ar entre nossa mão e o material isolante. O corpo percebe o calor reflexivamente, que na verdade é nosso mesmo e nós julgamos equivocadamente que o isopor e a lã é que são quentes. Se medissemos a temperatura deste objetos, depois de atingirem o equilíbrio térmico, elas indicariam a mesma temperatura do ar armbiente.

CONTINUA...

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