Porque você não trocaria sua vida dura por uma fabulosa mas irreal vida na matrix

Para quem já assistiu a Matrix, ou seja, é um ser humano normal, não precisarei explicar muito o que seria viver em uma.  Mas se você é uma destas pessoas que não viram o filme, ainda resta um fio de esperança para ser incluído na raça humana, afinal está lendo este texto. Também para você é esta sucinta descrição do que é a matrix (não se preocupe, prometo que a explicação não conterá muitos  spoilers). No filme, as máquinas utilizam o artifício (a matrix) para manter os humanos mentalmente saudáveis. Seus corpos são drenados de seu excedente energético do qual as máquinas necessitam enquanto dormem em animação suspensa em casulos artificiais, eternamente sonhando com um mundo irreal mas suficientemente paupável para nossas mentes. Todas as necessidades biológicas são mecanicamente supridas e a mente não se deteriora com o sono vitalício, pois é constantemente estimulada através do mundo criado pela matrix.
Bom, ocorre que, supostamente, viver na matrix não é tão ruim assim. Veja que ela é uma simulação perfeita do nosso mundo atual, a ponto de você não perceber que está inserido nela.
O filme ou um dos filmes da trilogia nos revela que as máquinas tentaram outrora fazer uma matrix baseada em um mundo perfeito. Sem dor, sem guerra, sem perdas. Só alegria. Tentador não é?
Aparentemente, a mente humana não aceitou este mundo perfeito e milhares de cérebros rejeitaram a matrix ou, segundo os agentes (programas humanóides de controle interno da matrix) relataram:"safras inteiras foram perdidas".
Mas a questão que quero colocar é esta: se você pudesse escolher em que mundo viveria, construindo-o segundo seus mais obscuros desejos, você toparia ser introduzido na matrix?
Veja bem, você poderia excluir a dor, ser rico, famoso, ter prosperidade, poder, mulheres ou homens, ser amado, amar enfim poderia revogar a tristeza e a infelicidade para toda sua existência. Neste caso, você jamais saberia que na verdade está em um  mundo falso e é um corpo boiando em um "cybercasulo". Quando envelhecesse, morreria dormindo, feliz e realizado e ponto final, seu corpo seria descartado e substituído por outro feto. O único problema é que você teria passada na vida como uma mosca cruza os ares. Sem mudá-la. Sem fazer diferença. Sem ser notado ou ter realizado algo concreto. Sem que ninguém percebesse sua passagem e muito menos seria lembrado posteriormente.
Acho que estas últimas afirmações já desanimaram muitos dos pretensos candidatos à matrix. Ah, sim, só para constar, no filme, a realidade era muito ruim. Um mundo literalmente apocalíptico. Vinte e quatro horas de ambiente bélico e tenso, comida escassa e ruim, além de medo constante. Máquinas caçadoras sempre espreitavam em busca dos humanos desgarrados das "plantações". Medo que persistia até quando retornavam à matrix para alguma missão, momento em que um enxame de agentes virtuais tentavam localizá-los e destruí-los sem piedade. Um verdadeiro inferno, mas a realidade dos que optaram a se rebelar.
Aos que ainda não se convenceram ainda tenho mais uma questão.
Luis Fernando Veríssimo tem um conto do qual eu gosto muito chamado "O Bacana" que pode lhe convencer. Aqui vai ter spoiler, não tem jeito. Tente se colocar no lugar do personagem principal para entender. Ele retorna depois de muito tempo a sua cidade natal, onde crescera muito feliz e de onde guarda suas mais lindas lembranças de infância. Cultiva com carinho a saudade de lugares onde brincou e cresceu. Lembra dos amigos e de que era um grande jogador de futebol, reconhecido por todos. Bons tempos. Vê a casa de um dos antigos amigos e, emocionado, resolve tentar a sorte, talvez ele ainda morasse lá. Bate palmas e é recebido por uma menina. Ele explica a situação dizendo ser amigo do homem que provavelmente é seu pai. A menina entra e ele pode ouvi-la descrevendo-o detalhadamente. Ouve, inclusive, ele dizendo depois da decrição: "Hi, é o Bacana". Neste momento, seu mundo cai e ele sai da matrix. Ele não sabia que esse era seu apelido secreto. Não sabia nem que tinha um apelido secreto. Então era assim que o chamavam pelas costas? pensa amarguradamente. Claro, afinal ele sempre tivera mais dinheiro que os amigos. Ele era, inclusive, o dono da bola. Será que o chamavam para jogar porque ele era o dono da bola? Pior, toda a bajulação era por causa de seus bens e não porque ele era legal? Tudo começou a fazer sentido. Que bando de interesseiros. Saiu de cabeça baixa, sem esperar o "amigo".
E aí? você também ficaria chateado com isso? Se disse sim, é porque você se importa com a realidade. O "Bacana" poderia fazer de conta de que não ouviu e continuar sendo o cara cheio de amigos e boas lembranças, bom de bola e querido, mas quando descobriu que foi enganado, tudo acabou, nada mais tinha o mesmo significado.
É isso, se você se importa com que os outros pensam (nem que seja um pouquinho), preza a verdade em algum grau, deseja deixar algo para a posteridade, ou mesmo quer deixar rastros na areia, então recuse entrar na matrix ou, vai saber, tome a pílula vermelha e trate de despertar!

Para meditar:
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