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Mostrando postagens de julho, 2015

Um conto de matrix - o crente e o ateu

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O garçom coloca mais uma cerveja gelada na pequena mesa circular que, de tão esquálida, trepida freneticamente. Não é possível saber ao certo se o pequeno terremoto é causado pelo peso da quinta garrafa depositada sobre ela ou pelo calor da discussão entre os dois amigos parcialmente entorpecidos. O maior e mais agressivo praticamente berra: Meu amigo, digo, por hora ainda amigo, quer dizer que o senhor conhece tudo que existe entre o céu e a terra? O rapaz por detrás de suas grossas lentes para miopia retruca comedidamente mas em tom firme: Ora, sei o suficiente para qualificar sua crença como improvável... - Minha crença? Espero que esteja ciente de que "minha crença" básica é compartilhada por milhões de pessoas em todo o globo! - Não nego, mas isso não reveste de credibilidade sua fé. Veja que uma quantidade muito maior de gente já acreditou que o corpo humano funcionava a partir de quatro humores primordiais como a bile negra, a bile amarela, o sangue e a fleuma.

A comida da Matrix - será que comemos algo muito diferente?

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As cenas com ação estonteante e cheias de efeito especiais de Matrix são realmente fantásticas, mas algumas das cenas do cotidiano dos despertos superam as expectativas pois possuem conteúdo filosófico profundo. A cena em que o grupo se alimenta da gosma com "tudo que o corpo precisa", talvez excetuando-se o sabor, é antológica. O alimento servido para aqueles que estão fora da matrix se resume a algo como um repositor lipo-proteico-vitamínico enriquecido com minerais que fornece os itens básicos para o funcionamento corporal. Grande probabilidade de muito destes componentes serem sintéticos ou transgênicos. O período é de guerra e provavelmente seu alimento é processado por alguma máquina que não pode se dar ao luxo de cozinhar como um renomado chef francês. Na verdade, parece que a comida servida é pior do que a vista em "2001 Uma Odisséia no Espaço" de Stanley Kubrick. Pelo menos em "2001" os tripulantes das naves comiam a sua pasta com apetite

Realidade na real - parte 3 - visão

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O ser humano possui uma boa capacidade visual. Na verdade, para um mamífero nossa visão não é das piores se compararmos com os cães que não enxergam cores. O carnaval seria muito mais sem graça se os desfiles fossem monocromáticos. Alguns primatas noturnos, no entanto, podem ver muito bem na penumbra da noite para caçar. Se compararmos com os animais do mar nossa visão também é muito boa. No mar os peixes, crustáceos e moluscos no geral não enxergam muito bem. Foco é um luxo. Cores? Algumas cores como o vermelho são quase invisíveis para a maioria dos animais marinhos aquáticos. Assim, muitos peixes usam esta cor para ficarem virtualmente invisíveis. Ah, aqui vale um parênteses para voltar aos mamíferos: os touros também não distinguem bem o vermelho do verde. Sim, eles são o que poderíamos chamar de daltônicos. Isso se deve a sua baixa especialidade de células sensíveis à luz. Assim, o que irrita o touro é o movimento que o toureiro faz com a capa e sua atitude desafiadora que de

Caçando andróides

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Você já assistiu Blade Runner, ou melhor, O Caçador de Andróides? Se não, não perca tempo e providencie uma cópia urgente, um balde de pipocas e se prepare para evoluir filosoficamente. Mais perdoável seria você não ter lido "Andróides Sonham com Ovelhas Elétricas?". Pois é, o título é este mesmo. Poucas pessoas sabem mas o irretocável filme de Ridley Scott é baseado neste livro. Seu autor é Philip K. Dick que não chegou a ver a versão filmada de seu filme. E vou dizer, ele não sabe o que perdeu. A versão cinematográfica acrescentou questões filosóficas muito mais profundamente. Não que o livro não seja bom, vale muito a pena ler, se você for fã então... Andróides buscando por mais vida. Isso por si só já é um prato cheio para qualquer filósofo. Mas (cuidado pois lá vem spoiler ) a cena do androide líder Roy salvando o seu algoz, o caçador, para se abrir como se este fosse um velho amigo e depois morrer... Simplesmente brilhante. No livro, decepção. O livro não possui t

Redução da maioridade penal e Democracia

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O filósofo Hélio Schwartsman escreveu em usa coluna do jornal "Folha de S. Paulo" que mesmo não concordando com a redução da maioridade penal, acha inevitável que a sociedade brasileira decida mais cedo ou mais tarde pela medida. Cita recente pesquisa do Datafolha onde figura que 87% da população concorda com a redução e lembra que a votação da PEC na Câmara contou com cerca de 67% de concordantes, dentre os presentes, dispostos a prender jovens de 16 anos por crimes. Segundo Schwartsman este anseio deverá culminar na aceitação da redução em virtude da esmagadora vontade popular, atribuindo isto a um revés da democracia. Concordo em parte. Acredito na democracia, apesar de tudo, e a considero ainda o meio mais aceitável de governar um país de tamanho continental como o Brasil, mesmo que a vontade neste caso sempre seja viciada em algum nível. A vontade, apesar de óbvio, deve ser a vontade real e não apenas uma resposta emocional e impulsiva. Falta informação para a maio

Realidade na real - parte 2 - o paladar e o olfato

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E o paladar? Você sabe o que é gostoso, salgado, doce, ácido, desagradável e estragado, bastando que coma um pedacinho de um alimento. Associado ao olfato, muitas vezes nem colocamos um alimento passado ou vencido na boca já que detectamos sua condição precária de conservação só pelo cheiro desagradável dela. Já observou os animais carniceiros? O urubu e a iena comem restos de animais putrefatos, cheios de vermes e infestados de culturas de bactérias maiores que a população mundial. Você pode ter perguntado como estes seres suportam o cheiro de tais alimentos, o que dirá do gosto. Como podem comer algo que cheira mais a enxofre do que o próprio capeta? A ciência atribui propriedades aos materiais ou matéria. O grupo de propriedades que são percebidos por nossos sentidos são chamados de organolépticas. Estas propriedades, a meu ver, nem deveriam ser chamadas de propriedades, pois variam de seres para seres e até mesmo podemos admitir variações dentro de representantes de uma mesma

Realidade na real - o tato

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Você confia nos seus sentidos? Acredito que sim, afinal foram eles que ajudaram na sua sobrevivência até agora. Nada mais justo. Contudo, afirmar que eles merecem credibilidade quanto à fidelidade da imagem no seu cérebro...Bom, aí há controvérsias. Mas sejamos justos, o cérebro conspira com seus sentidos. Vejamos o tato. Sensações de frio e calor são reais? Claro que são! Você diria categoricamente, afinal tomar aquele cafezinho frio é uma tristeza, já um chocolate quente no inverno, humm... Na outra ponta da história, experimente pegar o ferro elétrico com a mão quando você acidentalmente esbarra nele e o derruba da tábua de passar. Eu fiz esta besteira e a marca em "V" que ficou na palma de minha mão confirma que o ferro estava bem quente. E o isopor? Experimente tocar em algo feito de isopor. Pode ser a caixa onde você guarda as cervejas e gelo nas festinhas na sua casa. Já tocou? Então ele é quente ou frio? Agora encoste em uma pia de mármore ou granito. Melhor aind

Solidariedade e vida após a morte

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Apesar do título sugestivo não vou, ao menos por hora, aprofundar em nenhum dos temas provocados. Acho que seria bom registrar algumas impressões antes de falar sobre estes assuntos tão espinhosos, contudo, muito interessantes. Um medo inato do ser humano é com a morte. Mas que medo estranho é esse? Reparou que os animais não a temem? Digo, no contexto em que a tememos. Veja que um cão velho não perde um cochilo sequer por causa da preocupação com a chegada da sua morte. Mesmo os animais doentes, vivem o melhor que podem sempre. Eles se auto preservam mais para evitar a dor do que a morte. Já os humanos preferem, via de regra, a dor do que a morte. O ser humano é o único animal que consegue morrer antes da morte. Note que a notícia de uma doença incurável nos leva, no mais das vezes, a uma depressão profunda. A vida perde o brilho mesmo antes que a doença se manifeste. Tememos a morte mesmo sadios e jovens. Nossa cultura, particularmente, fica muito pouco a vontade ao abordá-la. O

Porque você não trocaria sua vida dura por uma fabulosa mas irreal vida na matrix

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Para quem já assistiu a Matrix, ou seja, é um ser humano normal, não precisarei explicar muito o que seria viver em uma.  Mas se você é uma destas pessoas que não viram o filme, ainda resta um fio de esperança para ser incluído na raça humana, afinal está lendo este texto. Também para você é esta sucinta descrição do que é a matrix (não se preocupe, prometo que a explicação não conterá muitos   spoilers ). No filme, as máquinas utilizam o artifício (a matrix) para manter os humanos mentalmente saudáveis. Seus corpos são drenados de seu excedente energético do qual as máquinas necessitam enquanto dormem em animação suspensa em casulos artificiais, eternamente sonhando com um mundo irreal mas suficientemente paupável para nossas mentes. Todas as necessidades biológicas são mecanicamente supridas e a mente não se deteriora com o sono vitalício, pois é constantemente estimulada através do mundo criado pela matrix. Bom, ocorre que, supostamente, viver na matrix não é tão ruim assim. Ve

Suas decisões são racionais ou aleatórias?

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O quanto você acredita na racionalidade de suas decisões? Elas são baseadas em critérios bem pesados e testados? São fundadas em sua sólida experiência ou você simplesmente escolhe aleatoriamente um dos caminhos a trilhar? Tenho certeza que você respondeu pertencer a pessoas do primeiro grupo. Na verdade, quase ninguém admite estar no segundo grupo, ainda que em algum nível todos estejamos. Todos gostamos de ter controle total sobre nossos atos e decisões. Na verdade, o ser humano não responde bem ao acaso e ao imponderável. No livro "O Andar do Bêbado", seu autor Leonard Mlodinow explana deliciosamente sobre o assunto, aplicando o tema ao nosso dia a dia, aos esportes e ao cinema por exemplo. Recentemente, sofri de eczemas (inflamações na pele) que me incomodaram por uns bons dois meses. Fui a dois dermatologistas de uma mesma clínica. A primeira me recomendou corticóides potentes por nada menos que 40 dias, além de pomadas de uso tópico, proibindo banhos longos e muit