Consciência vegetal - Você fala com plantas?



No início dos anos noventa, comecei o meu estágio da área técnica na Eletropaulo, atualmente a EMAE. Foi meu primeiro estágio, mais precisamente, meu primeiro trabalho. Tudo era novidade para mim. Era um misto de tensão e descoberta contínuos. Esse ambiente estimulante somado às exigências do colégio, criaram um cenário bem desafiador. Na verdade, apesar de estressante, o tratamento de choque foi gratificante e todas aquelas mudanças me tornaram um aluno mais organizado e uma pessoa mais responsável. Não preciso dizer que eu estava sempre na correria e com a mente tão ocupada que não sobrava tempo nem para pensar em outras coisas. Em uma das etapas do estágio eu fui trabalhar na área encarregada das barragens da companhia. Lá eu conheci a pessoa que seria minha nova chefe (tive vários chefes naquele ano), era uma garota muito simpática que me acolheu muito bem, vamos chamá-la de Carol. Carol era, na verdade, uma espécie de coordenadora do meu estágio, encarregada de me passar serviços e auxiliar em minhas dificuldades, que eram muitas.
Muito organizada e metódica, a mesa de Carol refletia seu jeito de ser, apresentando-se sempre bem arrumadinha e com vários toques femininos. Além de uns bibelôs de enfeite, possuía também vários "paus-d'água" decorativos. Os "paus-d'água" eram simplesmente um pedaço cilíndrico do caule de uma planta, imersa em água e não em um vaso com terra, do qual cresciam vistosas folhas.
Mais tarde fui saber que se tratavam de dracenas, uma espécie de folhagem que se adaptava muito bem à ambientes internos, mesmo quando cultivada aos pedaços apenas imersas em água. A dracena, vulgo "pau-d'água" tornou-se uma mania naquela época. Devido a suas baixas exigências de cuidados e boa resistência, era raro um escritório sem alguns exemplares sendo exibidos nas mesas de trabalho.
A Carol, vendo minha mesa completamente limpa, ofereceu-me , gentilmente, uma de suas belas dracenas. Aceitei o presente com certo receio. Nunca cultivara nada antes, apesar dos talentos e gostos de minha mãe pela jardinagem. Carol, contudo, me disse para eu não me preocupar, pois os cuidados exigidos pela planta seriam mínimos. Bastava, basicamente, atentar para que a água não secasse. Bom, isso até eu podia fazer, pensei.
O escritório tinha as mesas dispostas como em uma sala de aula e minha mesa era posicionada à frente da Carol, de modo que as mesmas condições ambientais eram usufruídas pelas plantas e a "mudança" não significou um trauma muito grande para a minha dracena, ao menos, foi o que eu imaginara.
Havia cerca de dez mesas naquela sala e mais da metade delas continha uma pequena dracena cultivada em vidro de conserva, todas muito bonitas. Fiquei satisfeito por fazer parte daquele clube. Mas, infelizmente, minha felicidade não durou muito tempo.
Os dias se passaram e percebi que, aos poucos, as folhas da minha dracena foram ficando menos viçosas. Mantive os cuidados à risca, mas com o tempo, as folhas tornaram-se manchadas e desidratadas, o caule foi ficando mais fino gradativamente. Em seguida, algumas folhas secaram e caíram retorcidas. Carol notou que a planta estava definhando, mas ela também sabia que, tirando o fato do vidro estar na minha mesa, nada havia de diferente entre o tratamento dispendido à minha planta e a das demais dracenas dela, deste modo, nada havia a se fazer. Logo, minha dracena havia secado completamente, a despeito de meus "esforços" para que ela sobrevivesse e de meus débeis cuidados. O mais curioso, é que todas as outras dracenas da sala, inexplicavelmente, nada sofreram. Aquilo foi constrangedor. Antes, tivesse esquecido de colocar água, deixado tomar muito sol, mas não foi o caso. Aparentemente, sem motivo evidente, minha planta morrera enquanto as demais permaneceram bonitas e bem vivas. Parecia sabotagem ou, para uma teoria mais holística, parecia que a planta havia morrido de tristeza por ter se separado da Carol. Para uma teoria mais sinistra, podia ser que a planta secara devido aos meus supostos maus fluidos, acabando por morrer. Nunca descobri o que acontecera realmente e acabei sendo alvo de algumas piadinhas desagradáveis. Obviamente, para os engraçadinhos do escritório a teoria sinistra cabia melhor para o caso. O tempo passou e me esqueci do fato.
Anos depois, li um artigo que me fez lembrar do episódio com minha infeliz dracena. Era sobre um experimento interessante realizado por um renomado especialista americano em detecção de mentiras, Cleve Backster. Backster resolvera testar o polígrafo (o detector de mentiras) na sua... dracena. Não sabemos exatamente porque Backster resolveu fazer o experimento, mas deve ter feito às escondidas por pura curiosidade dada a esquisitice da experiência . O fato é que ele descobriu que as plantas reagiam, sim, a agressões, coisa até que esperada, visto se tratar de um organismo vivo afinal de contas. Mas, o que mais o surpreendeu foi que o pau-d'água parecia perceber a intenção de Backster e manifestava-se antes da agressão. Por exemplo, quando o pesquisador pegou fósforos com a intenção de queimar algumas folhas, a planta "percebeu" a intenção antes de ter as folhas efetivamente queimadas.
Backster também descobriu que as plantas reagiam ao sofrimento alheio, como uma empatia extrasensorial. No caso, ele verificou que matar pequenos camarões despejando-os em água fervente excitava a planta. A percepção da planta se estendia até mesmo se a matança fosse conduzida em outra sala. Saliente-se que, para a realização do experimento, foram tomados os cuidados de se eliminar outras eventuais variáveis da experiência, como temperatura, iluminação, influências humanas e eletromagnéticas, interferências mecânicas dos equipamentos, dentre outras. Os resultados mostraram que as plantas, de alguma forma, se manifestavam exatamente no momento das mortes ocorridas automática e aleatoriamente na outra sala.
 O livro "A Vida Secreta das Plantas" de Peter Tompkins e Chistopher Bird conta essa e outras histórias, no mínimo, revolucionando nossos conceitos sobre o mundo vegetal.
Talvez, nossas avós estivessem certas quando diziam ser fundamental conversar com as suas plantinhas para que elas crescessem fortes e felizes.
Talvez, na época do meu estágio, aquela rotina de estresse contínuo, preocupações e rotinas novas constantes me induziram a emanar estímulos psíquicos, ou coisa que valha, insuportáveis para o meu pobre pau-d'água. Eu também não falava com ele.
Essa resposta a estímulos tão sutis e etéreos por seres descerebrados, como as plantas, ainda hoje é um mistério muito pouco explorado. Pode ser que haja uma explicação razoável para nossos padrões científicos atuais ou, se não houver, talvez ainda estejamos engatinhando na jornada para explicar a vida, a consciência e a interligação entre os seres vivos. Se assim for, seria muito recomendável uma mente aberta, além de uma boa dose de humildade para admitir que, talvez, não conheçamos tanto quanto gostaríamos sobre esses temas.


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