Qual seu nível de paranóia?



Sem querer fazer um tratado sobre psicologia vou me permitir viajar em uma das nuances da variabilidade da pessoa humana, mesmo porque estou longe de ser capaz de analisar os limites entre o TOC, Transtorno Obsessivo- Compulsivo, e a “normalidade”. Pelo pouco que sei o TOC seria uma doença que afetaria sobremaneira a vida do doente resumindo seu comportamento ao capricho das “manias”. Assim popularmente chamadas as irresistíveis compulsões de, por exemplo, lavar as mãos até quase que arrancar a pele, verificar se as portas da casa estão trancadas inúmeras vezes em uma noite ou, como bem retratado no filme com o magistral Jackie Nicholson, “Melhor Impossível”, não pisar em linhas ou riscas do chão. A série “Monk” também aborda o tema mostrando um detetive tão genial que, creio eu, não poderia se tornar uma série de TV de tanto sucesso não fossem as hilárias confusões que o TOC lhe proporciova. Comédias à parte, o caso é sério. Enfim, não sendo da área da psicologia, mas apenas um curioso, não posso sequer almejar qualquer rigor técnico nos disparates que estou para registrar.

De minhas observações diárias de pesquisa referente à colheita de material técnico-científico, ou seja, nos meus raros momentos de ócio, tenho observado este ponto de riqueza humana que, longe de achar uma doença, tanto diferenciam as pessoas e as tornam únicas. Assim quero crer quando acho minhas manias um pouco excedente do rotulado como normal. Um quesito muito interessante é a higiene pessoal. Creia-me: independente do nível de obsessão com a higiene que você tenha, você não é normal. Não existe padrão, mas sim o frequente. Em um extremo pode haver o doente com TOC que lava as mãos até que sua pele se rompa e de outro aquele que apenas as molha rapidamente ou mesmo sequer pensa em lavá-las antes de comer um franguinho com a ponta dos dedos.

Eu, como exemplo, já fiquei com nojo quando um colega colocava suas bolachas do lanchinho da tarde sobre a mesa de trabalho ou em uma pilha de relatórios antes de comê-las. Contudo, ele provavelmente sequer se tocou da falta. Seria mesmo uma falta? De fato, do ponto de vista da contaminação alimentar ele, ao menos, aumentou as chances de consumir uma boa porção de bactérias e outros germes, visto que os relatórios passam por inúmeras mãos antes de repousar inocentemente sobre as nossas mesas e, no caso do meu colega, nas suas bolachinhas. Bom, na verdade, não se tratava de “nojo” exatamente, mas de percepção. Afinal, não quis golfar quando ele comeu aquela bomba de bactéria, mas sabia que ele comia algo a mais. Já ralhei com minha filha quando lhe chamei a atenção para não colocar o sanduíche ou o que valha sobre a cama ou sobre o braço do sofá, claro que para ela eu era um paranóico, ou nas palavras dela, um chato. Só que o paranóico aqui ainda está saudável... Certo, ela também está, graças a Deus, mas deve ter tido ao menos uma dorzinha de barriga em função deste mal hábito, senão o mundo não é justo.

Em outra ocasião, um amigo meu tomava um cafezinho no balcão do bar. O fato relevante ou bobo é que ao retirar um daqueles copinhos plástico do tubo, acabou acontecendo o inevitável, dois copinhos vieram juntos... Até aí tudo bem, ele retirou um dos copinhos deixando-o sobre o balcão e usou apenas um deles. Neste meio tempo, durante nosso papo, um outro cara chegou pegou o copinho, olhou dentro, cheirou e não constatando nenhuma bactéria patologicamente relevante, encheu aquele container biológico com café e saiu entornando para dentro. Tudo bem, nada vai acontecer com o cara, mas o potencial é que me intriga. Apesar de ser uma atitude pouco ecológica eu retiraria outro copinho pois aquele poderia ter sido usado se não com café, com água e secado na sequência o que não deixaria traços visuais ou olfativos. Poderia ser que alguém tirou para usar para outra coisa como recipiente de algo seco, mas nojento, e deixou lá no balcão após o uso, displicentemente. De qualquer forma, meu amigo tocou as bordas com seus dedos para retirar um copinho do outro e, na verdade, não sei se ele lavou suas mãos ao usar o banheiro um pouco antes... Bom, e por aí vai.

Falando em banheiro, vocês já imaginaram as possibilidades de uma paranóia com banheiro? Ah, banheiro... aqui mora o perigo. Quer coisa pior e mais simbólica no âmbito das contaminações? Vamos dos disparates como pegar AIDS no assento até fazer xixi agachada em posição suspeitíssima para não encostar-se ao assento, claro que isso no caso das mulheres. O assento por vezes é forrado para evitar qualquer contaminação. A descarga é acionada antes para dar uma limpadinha extra na água do vaso ou nas paredes do troninho. Um amigo meu chegava a colocar papel higiênico sobre a água a "la Jesus Cristo" para tentar retardar o efeito chafariz quando a carga de profundidade era liberada. Constatei pessoalmente mais tarde que isso não funcionava e abandonei a prática. Esse amigo costumava chamar o processo de “liberação da noiva”. Aliás, esse mesmo amigo tinha aversão a chão de banheiro de hotel em especial ao do box. Sempre tomava banho de chinelos e ficava surpreso com a capacidade de outros de não se enojarem com isso. Nesse quesito acho que sou meio descuidado, confesso. Imagino que meus pés tenham uma boa blindagem, acho eu. Outros conhecidos não tocam na porta do banheiro por acharem, creio que acertadamente, que a maçaneta do banheiro seja um porto seguro de bactérias desgarradas das mãos dos aliviados mais descuidados com a higiene. Eles usam um pedaço de papel toalha ou papel higiênico para abrir a porta e depois se livram do papel rapidamente jogando no lixo mais próximo, muitas das vezes dentro do mesmo banheiro. É uma operação que exige certa agilidade e destreza uma vez que as portas de banheiros possuem fechamento automático. Eu já não chego a tanta preocupação, mas como conhecedor do perigo, eu me utilizo de dois artifícios mais brandos: aguardo alguém entrar para fugir no rescaldo do processo, no caso de banheiros bem frequentados é claro, ou me utilizo do dedo mindinho da mão esquerda, pela minha avaliação o mais desprezado. E aquele papelzinho que fica ao lado do mictório? Serve para enxugar a pontinha do companheiro depois de aliviar a bexiga. O processo evita qualquer gotinha de urina da cueca. A maior parte dos estabelecimentos não dispõe do artefato que libera este papel ao lado dos mictórios e acho que isso é até compreensivo pois notei que poucos se utilizam do mimo. Contudo, há os que fazem questão de pegar um pedacinho de papel para enxugar depois de urinar. Mesmo o tempo que cada um dispende no processo da “balançadinha” é diretamente relacionado com seu nível de paranóia. Alguns incluem até mesmo pequenos saltos, acredite ou não. Exagero? Talvez, se levarmos em conta que as russas sequer têm o hábito de se utilizar de papel após fazer o xixi isso parece exagero sim, uma vez que nas mulheres a área molhada é muito maior. Na verdade, não tenho certeza da nacionalidade das desencanadas, mas que há países daquela região onde secar-se após o xixi é uma coisa totalmente dispensável isso lá existe.

Para mais paranóia:
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