Evolucionismo e criacionismo - Incompatibilidade incontestável ou compatibilidade oculta?
Um dos maiores problemas de alguém racional que começa a se aventurar nos estudos bíblicos é o aparente conflito de sua possível racionalidade científica e textos quase que surreais, tais como o sopro divino e fecundante no barro; a remoção de uma costela de Adão para gerar uma mulher inteirinha, mas nem tão íntegra; um paraíso VIP cheio de belezas naturais, árvores frutíferas, algumas com frutos um tanto bizarros como vida e conhecimento; e que tal uma arca gigante construída por uma família de camponeses que abrigariam todos os bichos do mundo terrestre e cada um com direito a sua respectiva acompanhante? O que dizer de uma torre que pretendia chegar aos céus e apenas não chegou porque o próprio Deus, ao invés de derrubá-la, tornou a comunicação impossível dentre seus idealizadores por meio de criação de idiomas inéditos instantaneamente? Ah, tem também o cinematográfico mar se abrindo como uma porta de shopping center para permitir a passagem do povo de Deus; dramáticas pragas muito loucas como rios de sangue e nuvens de gafanhotos, moscas e invasões de rãs... isso sem citar, já no novo testamento, os poderes de Jesus fazendo jarros de água virarem vinho do bom para alegria de todos em uma festa de casamento, ou de Jesus andando sobre as águas como se estivesse passeando no calçadão das praias cariocas, e também "desligando" a tempestade, curando cegos, coxos e leprosos, sem esquecer de ressuscitar mortos, inclusive ele próprio, e despachar demônios mil.
Como conviver com tantos prodígios e milagres em um mundo racional cientificamente? A resposta é curta e grossa: ainda não há espaço para essa compatibilidade. Mas talvez a culpa não seja da fé, mas da ciência.
O normal é que devido a essa falta de compatibilidade, qualquer discussão e debate estão fadados a convencimento pessoal e individual, baseado em suas próprias crenças, cultura, fé e conhecimento. Aquele que é religioso, aceita as escrituras sagradas e tende a negar a ciência, ao menos na parte tendente a negar sua fé. Aquele que é demasiadamente materialista e racional tende a não ser religioso e quando o é, vive imerso em um mar dividido, com a fé de um lado e com a argumentação científica de outro.
Ainda assim, usar a ciência para refutar Deus apresenta um equívoco lógico enorme. Perceba que a ciência, por definição, é incompleta. Tanto que a ciência está sempre evoluindo e acumulando conceitos e até, eventualmente, refutando outros ultrapassados ou desmentidos. Quer exemplo melhor do que as recentes descobertas do telescópio espacial James Webb? Elas, simplesmente, vão demandar extensa e contundente revisão do que a ciência já considerava, antes de Webb, como verdade sólida e até irrefutável. Negar que a ciência é incompleta, significa transformá-la em dogma, característica da fé e das religiões. Por sua vez, a fé e as religiões se pautam em dogmas, normalmente completos. Independentemente de seu conteúdo, por serem dogmas, não precisam e nem necessitariam ser provados. Dogmas são aceitos como a verdade absoluta e ponto final. Não se trata de fé, mas de conceito.
Veja que tentar refutar Deus ou qualquer outra crença religiosa pautada na ciência é um paradoxo. É como usar o incompleto para explicar o completo. Usar tacapes e cunhas para consertar um computador quântico. Usar um galho seco para desenhar, na areia da praia, um projeto de acelerador de partículas. Enfim, acho que você entendeu... Usar uma ferramenta inacabada para argumentar contra algo teoricamente perfeito é, no mínimo, complexo de grandeza.
As religiões parecem até incompatíveis, o Deus Cristão parece um tanto contraditório se comparado em um testamento e outro, sem falar no aspecto quantitativo onde Deus às vezes é apresentado como único nas religiões monoteístas e em outras crenças não há apenas Deus, mas Deuses, nas religiões politeístas. Um garoto uma vez até me disse que Deus ficaria em xeque se você pedisse que Ele fizesse uma pedra inquebrável e depois pedisse que Ele mesmo a quebrasse. Você diria, basta o raciocínio lógico da ciência para ver que algo errado não está certo na fé. Mas e a ciência não possui contradições? Até hoje se busca pela teoria de tudo. Aquela que unificaria a física dos astros e estrelas com a física quântica dos entes subatômicos. Hoje, essas leis físicas são totalmente incompatíveis entre si e nem se sabe quando uma termina e a outra começa. Explicar o universo? acho que nem tangenciamos a verdade. Buracos negros? Esquece isso. Partícula de Deus? mais uma coisa para ser refutada no futuro.
Enfim, se é essa ciência incompleta a ferramenta que temos para explicar o divino, acho que teremos um grande trabalho pela frente. Talvez os aparentes paradoxos da fé sejam menos contraditórios do que as teorias atuais que explicam as origens das forças gravitacionais, a distorção do espaço-tempo ou os conceitos básicos e contraintuitivos da física quântica.
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