A Linguagem de Deus
Conheci muitas pessoas que diziam falar com Deus. Claro que nunca imaginei que estas pessoas batiam um papo tal qual estivessem em uma mesa de bar, conversando descontraidamente enquanto tomavam uma cerveja com amendoim, mas mesmo as demais opções nunca me pareceram igualmente razoáveis.
Alguns sentiam a resposta como que vinda do seu próprio interior. Outros recebiam mensagens de outras pessoas. Havia os que sonhavam. Ainda havia os que interpretavam situações, como sinais que representavam a resposta de Deus.
Creio que nesta última situação que eu tenho falado com Deus.
Conversando, certo dia, com amigos, eu me vangloriava de como estava melhorando no meu comportamento no trânsito. Diga-se de passagem neste quesito eu era uma lástima...
Sempre fui meio pavio curto ao volante e quando cruzava com um motorista que além de "braço" era um idiota que acreditava piamente de que tinha, por direito real ou divino talvez, inúmeros benefícios extras sobre os demais motoristas; eu ficava muito, mas muito nervoso mesmo.
Minhas reações iam de xingamentos até gestos obscenos, chegando ao extremo de até chegar a seguir sua alteza "o motorista real", buzinando e querendo satisfações. Vergonhoso, admito.
Após me tornar cristão, contudo, percebi a necessidade de mudar esta atitude. Realmente mudei bastante. Já tinha mais controle sobre meu corpo de forma que já não externava tanto meus ataques e chiliques, entretanto, ainda sentia muita raiva e, ainda que baixinho, ficava xingando e murmurando, sentindo ainda muita raiva...
Mas voltando a minha roda de amigos, muitos deles cristãos, comentei que estava em uma nova fase, agora, tentando educar o coração, ou seja, sentir menos raiva ou até sentir compaixão de tais motoristas. Neste ponto o fracasso foi quase total. Sempre saía de meus lábios um murmúrio, reclamação ou grunhido. Mas o pior é o que estava sentindo por dentro. A sensação de ser passado para trás, de ser ludibriado e roubado violentamente de meus direitos.
Enfim... Comentava com meus amigos o quanto melhorei e o quanto me empenhava para também tentar mudar meu coração.
Mas não esperava o que aconteceria em seguida. No fim de semana subsequente fui posto à prova. Era a semana dos dias dos pais e, portanto, cheio de compromissos e programações com a família. Havia, claro, os deslocamentos de carro. Em quase todos um motorista maluco me pôs a prova. E eu, em todas fiquei muito nervoso, miseravelmente, não cumprido com minhas intenções.
A gota da água foi quando um motorista, na entrada do shopping, que estava formando uma fila enorme para efetuar a conversão para a cancela, simplesmente me cortou a frente tomando meu lugar à entrada do shopping. O sangue subiu imediatamente. Não tive dúvidas, emparelhei com ele junto à cancela de forma a dificultar ou impedir que ele concluísse a "sacanagem". A manobra dele, mas também a minha, atrapalharam vários carros que seguiam pela via, fazendo com que tivessem que desviar das traseiras de nossos veículos. Fiquei encarando o motorista folgado, cego de raiva e disposto até a brigar se fosse necessário.
Foi quando percebi que os carros mais perto da cancela não se moviam mais. A cancela havia quebrado. O guarda gesticulou mandando todos os carros na fila se dispersarem em virtude da impossibilidade de entrar por aquele acesso. Todos tiveram que sair e se deslocar para outra entrada. Pior para mim que estava em uma posição péssima para manobrar em função da minha forçada.
Minha esposa, ao meu lado, permaneceu impassível sem sequer comentar meus acessos. Normalmente, ela estaria ralhando comigo, e eu devolvendo os insultos, mas ela era só silêncio.
Estava muito nervoso, mas no fundo me lembrei da conversa com meus amigos. Os compromissos de sábado terminaram e chegou o domingo dos dias dos pais. Senti que minha esposa estava incomodada, mas fomos dormir sem trocar mais palavras dos ocorridos, mas a senti chateada. O sábado chegou e tradicionalmente, minhas filhas acordaram cedo e me trouxeram os presentes artesanais preparados na escolinha. Um dos cartões tinha meu nome escrito em letras garrafais verticalmente ao cartão, de maneira de que cada uma das letras trazia uma suposta qualidade minha escrita horizontalmente utilizando as letras de meu nome. Como me chamo Guilherme, vocês podem imaginar quantas qualidades haviam: único, inteligente, legal, honrado e por aí vai. Mas foi a primeira qualidade que me tocou o coração. A letra "G" do meu nome, iniciava a palavra "gentil". Imagine... No dia anterior, eu tinha sido tudo no trânsito, menos gentil. Não creio que foi minha filha que escreveu aquilo sozinha, talvez fosse uma sugestão dos professores, mas isso nem importava, pois eu senti que era Deus me dando um puxão de orelha.
Ele me lembrava de ser gentil. Lembrava de minha promessa. Dizia que era isso que esperava de mim. Era aquilo que eu mesmo esperava de mim. Aquilo doeu fundo no meu coração.
As meninas saíram para jogar vídeo game, deixando-me a sós com minha esposa. Ela então disse que precisava conversar comigo. Eu lhe disse imediatamente que não precisava, pois Deus já havia falado comigo. Através do meu coração, do cartãozinho das minhas filhas e do próprio silêncio e comportamento da minha esposa. Deus usou estas "palavras". Palavras pouco usuais mas que me disseram tudo que eu precisava ouvir. Perguntei se não era isso que ela iria me dizer. Minha esposa assentiu e não disse mais nada, pois era exatamente isso que ela desejava me dizer.
Hoje, ainda brigo demais comigo mesmo para ser gentil. Gentil no trânsito, com a esposa e com as filhas e todas as outras pessoas. Nem sempre consigo, mas sempre percebo e sinto a necessidade de melhorar. Depois que Deus "falou" comigo, fiquei muito mais incentivado a melhorar.
Mas o que teve mais valor nessa experiência foi perceber que a voz de Deus se manifesta das mais variadas formas. Tudo que precisamos fazer é aprender a ouvir, ler e perceber estas vozes. Elas estão todo o tempo lá, clamando para serem ouvidas. Deus conversa muito conosco, apenas não atentamos para sua linguagem.
Aprenda a linguagem de Deus, pois perceberá que Ele sempre falou com você, mas foi você que não sabia a traduzir sua linguagem.
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