Superação dos perigos da IA, nanotecnologia e engenharia genética. Recompensa: simulação


Considero-me um cara difícil de assustar. Gosto de filmes de terror, na verdade, costumo dizer que pesadelos são até legais, já que são basicamente filmes de terror de graça. Brinquedos de parque de diversões me causam mais enjoo que medo. Gosto de insetos, o que faz-me não temer o contato com estes pequenos e engenhosos seres. Na verdade, eu já colecionei alguns espécimes e até criei alguns outros. Fui operado e não tenho medo disso. Agulha. Sangue. Mais incomodam e irritam que me causam medo.Tudo bem. Já costurei uma de minhas cadelas, por questão de emergência, depois que elas brigaram. Acho que minha cachorra se incomodou mais que eu. Já socorri um homem ferido em uma colisão de carro, ele estava inconsciente e tremulante, fiz massagem cardíaca e tudo (minha esposa me ajudou). Não tenho medo de altura, escuro, cachorro, nem de lugares fechados. Enfim... se tenho medo de alguma coisa, é mais que controlável, a ponto de nem precisar mencionar aqui.
Contudo, uma das coisas que coloquei na minha lista de temores foi a Hipótese da Simulação ou Argumento da Simulação. Mesmo ela não é um medo patológico, mas se tornou um fantasma que assola meus pensamentos constantemente. A teoria conta com cerca de 15 anos desde quando foi apresentada por Nick Bostrom. Filósofo e futurólogo, Bostrom dirige o Centro pra o Futuro da Humanidade na Universidade de Oxford, no Reino Unido. Lá, eles se preocupam com coisas maiores, coisas grandes mesmo. Para se ter ideia, eles tratam de assuntos como a sobrevivência da raça humana quando as máquinas se tornarem superinteligentes. Sim, "quando" e não "se". A questão é encarada de forma séria e, não apenas para Bostrom, o fato futuro tem um potencial muito grande de gerar extinção da raça humana, se não forem criados dispositivos engenhosos de controle. Que, vale dizer, ainda não existem ou, na melhor das hipóteses, engatinham em termos de desenvolvimento.
Mas, pelo menos para mim, o mais assustador não é o trabalho de Nick. Mas a famigerada Hipótese da Simulação que é de uma amplitude muito maior.
O conceito de que nossa realidade não é o que imaginamos ser, não é de Nick, nem mesmo é nova. Remonta, na verdade, ao menos conceitualmente, à religião indiana, por exemplo e mesmo se assemelha a conceitos filosóficos antigos de Platão a Descartes. Neste ponto, acho muito curioso que o homem tenha tido esta percepção, em períodos de nossa cultura tão primitivos. Será mesmo que alguns de nossos antepassados já se incomodavam, em seu próprio tempo, com questões profundas a respeito da realidade de forma tão intensa que se sentiram impulsionados a tentar explicar ou entender para tentar remover este espinho? É aquela sensação de que algo está errado com a realidade. Uma rejeição natural a nossa realidade. Uma percepção de que nós não estamos aqui de fato, ao menos, como acreditamos estar. Seria isso tudo apenas uma sensação causada por fenômenos cerebrais pouco explorados? Seria um nível intermediário de iluminação? Seria apenas neurose? Ou, como muitos diriam, seria apenas uma bobagem sem tamanho? Bom, de fato, ninguém pode dizer contundentemente.
Nick Bostrom é um dos pesquisadores que está se encarregando, com todo seu esforço profissional, que sobrevivamos a uma das etapas de evolução tecnológica muito perigosa. Essa Era é muito pior do que a Era da ameça química, biológica e nuclear que enfrentamos a pouco tempo. Ainda com sombras sinistras, mas praticamente superadas. Mas, agora, surgiu a Era da nanotecnologia, da engenharia genética e da inteligência artificial, todas elas, tecnologias com um potencial destrutivo muito maior do que as três ameaças anteriores que, aparentemente, superamos.
Assim, SE sobrevivermos, o que virá daí em diante? Se sobrevivermos, virá uma Era em que deixaremos de ser meros humanos de qualquer forma. Não se sabe muito bem o que seremos, mas seremos tão diferentes que costumam chamar esta nova espécie reformulada de PÓS-HUMANOS.
Finalmente chegamos da Hipótese da Simulação. Estes pós-humanos teriam ao seu dispor uma tecnologia e capacidade de processamento computacional nunca disponível antes, algo como uma IA com capacidade cerebral equivalente a de toda a população do planeta, podendo facilmente evoluir para uma super IA com capacidade de processamento equivalente a de todos os seres humanos que já caminharam no planeta. Isso não é uma possibilidade. É um fato, bastando para isso que sobrevivamos a nossa própria tecnologia.
Neste futuro não tão remoto, outra barreira à concretização da hipótese da simulação é a possibilidade de não nos interessarmos, proibirmos ou, por qualquer outra razão, não desenvolvermos ambientes simulados. Dada a quantidade de jogos de videogame em que fazemos exatamente isso, acho que tal barreira praticamente não existe. Está bem claro nosso interesse em se criar ambientes simulados, seja para diversão, trabalho ou intuito educativo.
Chegando a esta etapa, Bostrom afirma que a possibilidade de estarmos em um ambiente simulado beira os 100%. E, apesar de achar que uma coisa nada tem a ver com a outra, após pensar um pouco concluí que ele está fatalmente certo. Provavelmente estamos em um ambiente simulado.
Ainda não se convenceu desta última afirmação? Neste caso, acompanhe a linha de raciocínio ou experimento mental que acabou por me convencer de algo que parecia um absurdo antes.
Se chegarmos a etapa de pós-humanos não seria razoável pensar que outras civilizações já chegaram? Ou você acha que, realmente, somos os únicos seres na vastidão do universo? Quando se trabalha com possibilidade não podemos envolver crenças, assim, apenas o fato de existirmos e termos chegado ao estágio de pós-humanos, provaria definitivamente que outras civilizações não apenas existem mas também atingiram a fase de pós-extraterrestres.
Agora, pensando ao contrário, para que não estejamos em um ambiente simulado teríamos que ser a primeira ou pelo menos uma das primeiras civilizações a atingirem tal status. Por quê? Porque não poderíamos estar em um ambiente simulado se algo ou alguma coisa não o criara antes, ok? Seríamos os pioneiros no campo intergalático de simulação de ambientes. Neste caso, qual a probabilidade de sermos os pioneiros neste campo na galáxia?
Aqui cabe outro exercício mental. Vamos supor o universo como algo que inciou no BIG BANG e está seguindo uma linha temporal como a sentimos. A partir deste ponto, teríamos que ser a primeira ou uma das primeiras a atingir este estágio. A maior probabilidade é de que não fomos, já que dado o tempo incomensurável do universo depois de seu início, parece óbvio que teríamos maior chance de ter surgido, se é que isso ocorreu, em momentos muito mais tardios, já que estes momentos seriam muito mais numerosos. Perceba que até hoje devem estar surgindo planetas com vida, contudo, os planetas pioneiros já deixaram de surgir, logicamente. Neste caso, ou seja, se somos mesmo pioneiros, seríamos uma afortunada civilização de pós-humanos, não vivendo em ambiente simulado, mas extremamente sortudos por não morarmos em ambiente simulado. Veja que as civilizações anteriores em estágio de simulação já haveriam criados seus ambientes simulados. E, muito provavelmente, os seres extraterrestres simulados (vamos chamá-los de SES) que viveriam nestes ambientes poderiam, por sua vez, também evoluir para seu próprio estágio de capacidade de criar ambientes simulados, gerando uma quantidade de universos simulados infinitamente superior aos ambientes não simulados. Assim, os pós-humanos não simulados seriam uma remota possibilidade. A maior probabilidade é a de que a maioria dos seres sencientes do universo seriam como uma das criaturas similares aos SES que, por sua vez, estariam, ilusoriamente achando que fazem parte do ambiente não simulado e almejam um dia criar seus próprios ambientes simulados.
Não estou afirmando que seja impossível que nosso universo seja o real. Contudo, matematicamente, a possibilidade é mais remota que ganhar na sena apostando apenas em cinco números.
Por fim, onde entra meu medo disso tudo? Meu medo reside do fato de que estamos em uma era que está provando que nossa realidade, estranhamente, não é tão real assim.
Perceba que por mais que uma simulação almeje a perfeição ela raramente é atingida. Por mais que acreditemos em nosso universos, algumas vezes, algumas pessoas em algumas situações podem perceber deslizes da simulação.
A física quântica mostra que nossa noção do que é real é frágil como a dualidade onda-partícula. Parece que tudo é uma onda de possibilidade até que o observador resolva observar. Shorödinger abalou o mundo físico com seu experimento com o gato que altera nossa percepção da realidade com um fato assombroso: o gato está simultaneamente vivo e morto em algumas circunstâncias. Isso tudo tem aparência de economia de processamento.
Os recentes argumentos dos planistas, aqueles que afirmam que a Terra é chata e não esférica, podem indicar algo como uma simulação mal conduzida. A maioria dos argumentos são refutáveis, mas se analisados com cuidado alguns são estranhamente plausíveis. Talvez os planistas estejam errados apenas em sua conclusão. Talvez a terra seja de fato esférica, contudo, estranhamente esteja fornecendo sinais de planimetria visto que nossa consciência não a entende como uma esfera mas como um plano. Talvez esta nosso percepção, ainda que falsa de sua planimetria, altere ou remodele a realidade dando sinais de fato de que a terra, esférica, seja plana.
Quando a ciência começa a provar que nossa realidade talvez não seja tão real quanto supomos, começamos a acreditar mais ainda na hipótese da simulação.
Meu medo maior? Será que criaturas simuladas que notam este fato são nocivos para a simulação?  Podem alterar ou desrespeitar suas regras, como o programa Smith no filme The Matrix? Neste caso, devem ser estes rebeldes eliminados? Será que a consciência de sermos seres simulados tenha alguma implicação "real"? Nosso "simuladores" encarariam isso numa boa? Bom, agora é tarde para mim e para você. Vamos ver o que acontece...

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