Crueldade Evolutiva - Hora de Morrer



Quem busca cuidar da saúde, geralmente procura se alimentar com aqueles itens que acha e crê serem mais benéficos para seu corpo. Contudo, essa busca muitas vezes se mostra ingrata. Alimentos que ganharam status de milagrosos e outros que foram taxados de tóxicos, depois de um tempo, podem ter estes seus status invertidos. Descobrem pontos negativos naquele alimento milagroso e os benefícios fundamentais daquele outrora taxado de tóxico. O mundo está de cabeça para baixo? A culpa é da indústria alimentícia e farmacêutica? Médicos e nutricionistas não possuem boa formação? Os pesquisadores e pesquisados não geram resultados que representam de fato a realidade? Existe alguma conspiração alimentar fundada no lucro e não na saúde? Bom, infelizmente, a resposta é sim para todas as perguntas, mas... mais infelizmente ainda, nem mesmo esta consciência nos faz encontrar os melhores alimentos e nem estou falando da intensa modificação que tantos os animais quanto os vegetais que nos servem de alimentos sofreram. Estou falando de nossos cromossomos. Estou falando da seleção natural. Contra isso pouco podemos fazer. É sentar e chorar.
O doutor Daniel E. Lieberman no seu livro "A História do Corpo Humano" tem uma teoria interessante que explicaria essa nossa infrutífera busca atrás do "alimento Santo Graal" que nos propiciaria em tese vida longa, alegria, saúde e prosperidade corporal. Veganos, crudívoros, onívoros, vegetarianos, comedores de gordura, proteína, frugívoros vão sempre brigar pelo gama de alimentos que nos levam ao “Éden da Saúde”. Lieberman, de forma até cruel, foca que nunca foi a intenção da evolução ou da seleção natural produzir seres longevos ou necessariamente saudáveis. Assim, se você come, inevitável e fatalmente está cavando sua cova de um jeito ou de outro. Veja que, se você precisa comer, sua escolha fica restrita apenas a alimentos que bem ou mal aceleram ou atrasam sua hora fatal, mas nenhum - e friso bem - NENHUM vai te levar a uma longeva, saudável e feliz vida, necessariamente. A seleção natural visou apenas e unicamente seres FÉRTEIS, que pudessem se reproduzir e deixar descendentes. Ponto final. Uma vez duplicados, a natureza quer mais é que você morra. Com o perdão da falta de papas na língua. Se seus cromossomos já foram deixados para a posteridade, porque você acha que a natureza se importaria com o fato de que você quer viver mais 50 ou 80 anos depois disso? Você, depois de ter se reproduzido, é um peso morto biológico para a natureza. Dura verdade, eu sei... mas, depois disso, a natureza quer mais é que você vá para a luz.
No mundo animal, não são raros os exemplos de animais que, após sua reprodução, simplesmente morrem. A mosca efemérita depois que sai do seu casulo, vive apenas para copular, botar ovos e morrer. O salmão vive anos no mar, mas retorna e sobe o seu rio natal, altera seu corpo inacreditavelmente para voltar ao ambiente de água doce, sofre horrores na viagem gastando imensa energia, alguns sobreviventes copulam, desovam e, apesar de veementes vencedores da corrida da seleção natural, após o ato, simplesmente lhe resta morrer. A cigarra, depois de viver muitos anos sob a terra, cerca de dezessete anos, se torna um ser alado e cantor que emite o som mais alto da natureza para encontrar um parceiro, mas depois de consumada sua reprodução só lhe resta morrer, cerca de apenas três semanas depois. Seria algo como se um ser humano, após atingir a maturidade sexual, vivesse apenas cerca de dois ou três anos para se reproduzir e criar a prole. O louva deus e a viúva negra, comem os seus machos depois da cópula, pois o macho só tem valor nutricional após o cruzamento, é um peso morto para a preservação de sua espécie após ter copulado. Cruel não é?
Assim, a dura realidade é que você não é especial para a natureza. Não é V.I.P. evolutivamente qualificado. Não existem alimentos puramente saudáveis, pois todos induziriam apenas a um período de sobrevivência para que você (se caso homem), mantenha sua testosterona em alta para reproduzir e, depois do fato ou fatos (se você for um garanhão), pode morrer, pois sua função no grande esquema da seleção natural acaba quando você deixa seus gens. Você, literalmente, se torna um peso morto biologicamente falando. Tá bom, talvez você só precise viver para criar seus filhos até sua independência. Ah, em alguns casos, isso pode demorar mais de quarenta anos... Agora estou achando isso bom...

Conclusão: a natureza lhe dá saúde para reproduzir, não para ser longevo ou feliz. As criaturas evoluíram para deixar descendente e, apenas se uma vida longa esteja relacionada a um maior número de descendentes, que a natureza eventualmente abrirá uma exceção e lhe concederá uma vida longa. Para a preservação da sua espécie você só tem valor para se replicar. Ponto final. Replicado, você entra em uma corrida solitária pela sobrevivência. Quer você coma carne, quer coma vegetais, quer coma frutas, quer tome suplementos, quer coma comida viva, quer tente viver de luz... não se engane, algum elemento da comida, boa ou má, ou no ambiente, ou no ar lhe induzirá ao seu destino final e inevitável, dia a dia, sol a sol até a decadência corporal e morte. Não conte com a natureza para lhe ajudar, ela está c... para você. De qualquer forma, a melhor dieta do mundo, se existisse, mudaria pouco na questão da sua longevidade e saúde se comparada com uma dieta mediana, pois a todos a luta seria essencialmente ingrata.
Agora vamos encarar a dura realidade. Você já tem filhos? Quer deixar mais recursos para eles? Então... deixe de ser cínico com essa conversa de alimentação para proteger animais, para energizar, para suprir necessidades primordiais, para harmonizar com o espírito, para desintoxicar para preservar a terra, para sustentar o corpo e alma, deixar um bom legado para os filhos, cumprir uma missão pessoal ou espiritual...  Enquanto você está aqui, você está consumindo recursos preciosos das novas gerações. Assim, seja homem, seja corajosa... Quer deixar um bom legado para as próximas gerações de fato? Então... hora de morrer, descanse em paz.

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