Racionalismo versus Religiosidade - Deus é incoerente?
Recentemente, a Universidade Mackenzie inaugurou um centro de ciência, fé e sociedade. Considerando sua condição de Universidade Presbiteriana não parece algo tão inapropriado. Contudo, um dos objetivos do centro é estudar e defender a TDI, ou seja, a teoria do design inteligente.
Esta teoria, em suma, tem prerrogativas antievolucionista e prega que os organismos são de tal nível de complexidade que jamais poderiam ter surgido espontaneamente, assim, exigindo a existência de um projeto e, claro, de um projetista, no caso, Deus.
Nossa ciência ainda está em um nível que nega qualquer influência de um ser superior. Talvez, com mais evolução e desenvolvimento descubramos que as teorias criacionistas e evolucionistas tenham mais em comum que qualquer um dos lados imaginou ou, quem sabe, descubramos que é a mesma teoria.
Carl Sagan já sugeria que uma tecnologia suficientemente avançada não seria distinguível da magia, ao menos, no nosso atual nível de desenvolvimento. Sagan se referia também a uma eventual tecnologia alienígena super avançada. Mas, qual o problema se essa super tecnologia fosse a nossa mesma? Nas últimas décadas foram produzidos conhecimentos que se igualam a todo resto da história da humanidade e na próximos anos provavelmente superaremos isso.
Quem sabe daqui a algumas décadas, tenhamos conhecimento e tecnologia suficiente para entender melhor o mundo, com mais alguns anos o universo e quem sabe, com o avanço cada vez maior, comecemos a entender melhor a mente de Deus. Isso não seria ruim, pelo contrário, nos faria ser mais humildes e menos materialistas. Aproximaria as pessoas e eliminaria as religiões.
A física quântica é um bom exemplo de como a arrogância humana nubla nossa visão do mundo. Em 1900, Lord Kelvin, matemático, físico e presidente da Royal Society Britânica chegou a afirmar em uma palestra para a British Association for Advancement of Science:
"Agora, não há mais nada novo para ser descoberto pela Física. Tudo o que nos resta são medições cada vez mais precisas".
Poucos anos mais tarde, a física quântica mandou por terra diversos conceitos consagrados da física clássica, mostrando como era ínfimo nosso conhecimento sobre a física do universo. Suas ideias eram tão inaceitáveis pelos conceitos tradicionais que se aproximavam do misticismo segundo alguns físicos. Partículas pareciam ter consciência de estar sendo observadas, mudavam sua natureza, e até viajavam no tempo. Contudo, cada vez mais experimentos provavam estas singularidades e excentricidade das partículas. O respaldo teórico cada vez mais se solidificava graças a Louis Raymond, Max Planck, Niels Bohr, Max Born, Heisenberg dentre outros tantos. Estava exposta a arrogância humana, pois uma nova ciência apontava. Os físicos clássicos perdiam a guerra. Hoje, a física quântica é o que há de mais contemporâneo no estudo da física.
Amit Goswami é um físico, ainda considerado polêmico, que tenta unir os conceitos da física quântica a espiritualidade e a relação mente-corpo. Em sua visão, Goswami tenta unir dois mundos aparentemente excludentes. Sempre separamos estes dois mundos de forma bem clara e definitiva. Dada sua visão oriental influenciada por sua origem indiana e sua criação por um pai guru, Amit Goswami tem invadido uma Seara temida: a da fusão de dois campos incompatíveis pela tradição ocidental. A união da espiritualidade com a racionalidade. A fé e o experimentável.
Será que com a expansão de nosso conhecimento já estamos resvalando no ponto de consciência que não mais nos afasta de Deus mas que nos aproxima mais d'Ele?
Carl Sagan já dizia, como gosto muito de lembrar, que uma tecnologia suficientemente avançada não se distinguiria da magia. Assim, talvez um conhecimento suficientemente amplo não nos afaste de Deus mas nos aproxime. Carl Sagan também disse que a ciência não apenas é compatível com a espiritualidade, mas uma profunda fonte de espiritualidade. Não porque não precisemos de fé, mas porque a verdade seria uma só, ao menos por enquanto, duas verdades opostas não podem coexistir. Vale lembrar sempre que a ciência, por conceito é incompleta e deve sempre evoluir, caso contrário esta seria dogma, e Deus, por sua vez é completo, e portanto não evoluiria. Veja que o que estamos tentando realizar é conceituar e entender algo perfeito utilizando ferramentas inadequadas. Seria algo como consertar uma placa de circuito impresso com maçarico e martelo ou fazer uma operação cerebral com tesoura de jardim. Assim, todos os caminhos que percorremos no nosso desenvolvimento, desde que focado na boa intenção, nos faz compreender melhor a criação de Deus ou, se preferirem, a evolução de Deus em nós.
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