Ceticismo e fé - a eterna batalha entre a ciência e religião
Quando um ateu e um crente discutem as razões de suas crenças ou, no caso dos ateus, descrenças, não é raro que a discussão vire uma gerra de proporções épicas.
Parênteses para alinhar conceitos: entenda-se aqui um crente em uma das três principais religiões monoteístas, ou seja, o cristianismo, o judaísmo e o islamismo. Por ateu, entenda-se aquele que não crê na existência de Deus e, mais, não profere qualquer fé religiosa.
O ateu geralmente ataca se referindo à religião como objeto de obscuridade e, quando em mãos inescrupulosas, responsável por diversas manipulações e atrocidades históricas e atuais. Aqui, falam da inquisição católica, da guerra santa islâmica, do conflito entre judeus e árabes, dentre outros. Os crentes responsabilizam os maus líderes religiosos e não a fé em que ela se baseia. Os ateus retrucam a negação de fatos científicos como a teoria da evolução de Darwin. Os crentes, alegam interpretações incorretas dos escritos sagrados, sua linguagem figurada ou mesmo adotam a versão religiosa como verdade, baseada unicamente na sua fé incondicional. Os ateus citam a falta de provas contundentes da existência de Deus. Os crentes reforçam que a fé não se baseia em provas e delas prescinde conceitualmente. Os ateus consideram qualquer louvor como um ato de submissão e servidão a algo pouco real, como um treinamento para submissão, auto-humilhação e controle. Os crentes afirmam ser este um exercício pessoal de melhoria contínua espiritual através da remoção do coração de valores mundanos, dentre os quais figuraria o orgulho. Os ateus se revoltam com a forma como as religiões interferem com assuntos pertinentes ao sexo e às demais relações humanas, ditando comportamentos. Os crentes afirmam que estas condutas visam atingir a santificação através da negação de desejos carnais que, obviamente, são inerentes do ser humano devido a sua natureza animal básica e deve ser atenuada.
A discussão está condenada à não concluir jamais, visto que talvez nunca tenhamos provas efetivas da existência de Deus. Ao menos não nesta vida, segundo os crentes. E não enquanto tivermos medo da morte, do futuro, do desconhecido e do escuro e do trovão, segundo os ateus.
Vale lembrar que a fé em Deus reside no coração de cada um. Nem sempre baseado em medo, seja qual for, mas baseado em uma necessidade de se buscar nossas verdadeira origens.
A ciência realmente está se saindo melhor? Então vejamos, sabemos que o homem surgiu da evolução de subespécies hominídeas, estes da evolução de espécies primatas, estes de espécies não mamíferas, estes de espécies tão diferentes que sequer tinham espinha dorsal, estes de células sequer pertencentes do reino animal, estas de orgânulos primordiais baseadas em aminoácidos mais complexos que, de alguma forma, se organizaram de maneira a se replicar (claro que a teoria é muito mais complexa e está colocada assim para "simplificar"). Acreditar em uma dupla-espiral molecular (o atual modelo do ácido desoxirribonucleico - ADN, ou em inglês e mais popular, o DNA, o composto responsável pela replicação celular básica) que se formou por um capricho da natureza e que, acidentalmente, começou a se replicar, pode ser tão difícil quanto crer na criação de Adão a partir do barro por um sopro divino ou da criação de Eva a partir de uma costela. Saliente-se que há muita dificuldade em se compreender o surgimento de compostos orgânicos o que dirá de vida orgânica. Considerando que supostas moléculas de aminoácidos tenham surgido espontaneamente e, por muita sorte, criado mecanismos para se replicar como a dos vírus atuais e, mais, replicado de forma explosiva de forma a interagirem com seus DNA primitivos, cruzando-se entre si e, em seguida, desenvolvido capacidade de melhorar cada vez mais as informações de seus DNA de maneira a evoluírem e gerarem criaturas cada vez mais complexas e melhoradas, culminando, finalmente, no homem! Convenhamos... de minha parte, começo a achar que é mais fácil acreditar no velho Adão e Deus. A teoria de surgimento da vida é tão abstrata quanto a versão criacionista, se analisada do ponto de vista concreto. Nada temos de concreto em nenhuma das teorias.
Antes que alguém diga, a panspermia não é uma explicação razoável para explicar o surgimento da vida e, quando muito, explicaria o surgimento da vida na Terra. A panspermia é a teoria que admite que a vida foi semeada no nosso planeta por meio de meteoritos, asteroides ou planetoides (talvez até extra terrestres). Ou seja, pressupões vida pré-existente mesmo que externa. Não explica o surgimento da vida em si a partir de matéria inorgânica.
Mas, talvez por ser homem também, considero que a raça humana é especial quando relacionada com outros seres vivos de nosso planeta. Veja que nossa mente é uma das coisas mais fantásticas que possuímos. A consciência em nível humano não pode ser observada em nenhum outro animal. Mesmo mamíferos mais complexos não se comparam com a capacidade mental humana. O tamanho de nosso cérebro é um mistério a parte. Nenhum outro órgão humano se desenvolveu tanto a ponto de exigir tanta energia. Em um mundo de escassez onde a raça humana prosperou foi uma aposta alta e arriscada. O tamanho de nosso encéfalo é algo pornográfico e quase proibitivo. Quais seriam as razões para este crescimento desenfreado? Seria para comportar nossa privilegiada mente? O que seria a mente neste caso? Ela seria concreta? Ou o mecanismo cerebral cria uma consciência fundada em reações supercomplexas de base eletroquímica apenas? Ela estaria vinculada às nossas memórias e experiências? Se fosse possível replicar um cérebro perfeitamente, a mente também seria replicada? Ou seja, a mente seria unicamente uma interação cerebral? A ciência, até o momento, não obteve muito êxito em explicar o funcionamento cerebral, o que dirá a mente.
A despeito da grandeza deste órgão humano, temos que admitir que ele (o cérebro humano privilegido) não foi o suficiente, até agora, para descrever ele mesmo e seu funcionamento, nem tampouco em descrever a natureza que nos cerca. Talvez quando o cérebro crescer um pouco mais, quem sabe.
Talvez se o cérebro crescer um pouco mais tenhamos sucesso em descrever o universo corretamente. Avançamos bastante em nosso conhecimento do cosmo, mas as teorias vivem sendo alteradas e corrigidas, e muitas são frutos de cálculos matemático, observação e intuição.
Talvez quando o cérebro crescer um pouco mais, entendamos a física quântica de fato e seus conceitos tão contraditórios e intangíveis.
Talvez quando o cérebro crescer um pouco mais, finalmente possamos compreender os mistérios da vida, seus mecanismos e processos.
Talvez quando o cérebro crescer um pouco mais, possamos aprender a curar doenças que nos assolam a despeito de todos nossos esforços em exterminá-las ou mesmo reduzí-las.
Talvez quando o cérebro crescer um pouco mais, entendamos o que é a consciência humana e de outros seres e, quem sabe, crescerá o amor e respeito para com estes outros seres vivos.
Talvez quando o cérebro crescer um pouco mais, convivamos pacificamente, sem necessidade de religião, política, lei ou cultura, mas apenas porque a convivência pacífica seja o sinônimo da paz e sua manutenção ou o caminho lógico para a vida plena.
Talvez quando o cérebro crescer um pouco mais, entendamos melhor a morte e todos fenômenos atrelados a ela e não mais tenhamos temor dela.
Talvez quando o cérebro crescer um pouco mais, compreendamos melhor as interações bioquímicas de nosso corpo de forma a entender melhor os alimentos, remédios e mecanismos de envelhecimento, de forma a conduzir a uma vida saudável e longeva.
Talvez quando o cérebro crescer um pouco mais, consigamos resolver questões éticas e raciais facilmente, sem grandes discussões, derramamento de sangue e conflitos.
Talvez quando o cérebro crescer um pouco mais, possamos ver a vida como uma dádiva e não como uma maldição.
Talvez quando o cérebro crescer um pouco mais, possamos de uma vez por todas negar a existência de Deus e nos proclamarmos independentes da necessidade primitiva de um ser supremo e vigilante.
Contudo, enquanto nosso cérebro for do tamanho atual, talvez Deus seja uma explicação muito plausível e razoável da mecânica das coisas e de convívio pacífico entre nossos iguais. E, se isso não está ocorrendo, talvez a culpa seja de nosso cérebro ainda muito reduzido para sequer seguir normas básicas de conduta pacífica e de filosofia de vida autossustentável.
Dada a velocidade do crescimento da massa encefálica ser extremamente lenta, talvez crer em Deus seja o caminho mais curto para resolver estas questões que estão aguardando solução pelo racionalismo puro.
O racionalismo que nega veementemente a existência de Deus não resolveu estas e outras questões até mais simples. Este racionalismo precisa de mais credenciais para ter credibilidade suficiente para negar a existência ou não de qualquer divindade. Afinal, para negar o maior mistério de todos, os mistérios menores deveriam ser resolvidos facilmente. A um ateu convicto eu perguntaria qual tipo de dieta (quais alimentos e quantidades) me proporcionaria uma vida plena, longa e saudável o suficiente para não mais pegar resfriados e gripes pelo menos (baseado na melhor ciência). Se ele soubesse me responder satisfatoriamente esta questão tão simples, ele teria maior credibilidade para opinar sobre a existência ou não de um ser supremo. Caso contrário, sua crença na ciência e na capacidade cerebral humana trata-se de um delírio de grandeza.
Comentários
Postar um comentário