Desarme a indústria alimentícia - conheça suas armas


Em The Matrix, as máquinas manipulam a mente humana para convencer o cérebro de que ele se alimenta de coisas gostosas, quando, na verdade, o corpo apenas recebe nutrientes brutos e básicos. A princípio, esse ardil nos escandaliza e nos ofende profundamente em nossa honra e dignidade. Mas, analisando a questão com mais imparcialidade, podemos verificar pontos interessantes. O primeiro ponto é do alimento de fato que as máquinas introduziriam em seu "gado encasulado". Convenhamos que às máquinas não interessariam que sua safra ficasse doente, mesmo porque elas dependiam da energia fornecida por ela. Assim, apesar de convencer mentalmente os humanos de que se alimentavam de toda sorte de nossas porcarias modernas, como doces, salgadinhos, sanduíches, bifes gordurosos, batata frita, refrigerante, cerveja e outros tantos alimentos "reais" que consumimos aos montes, na verdade, nos era injetados nas veias nutrientes puros que manteriam a saúde de grande parte da safra, a exceção de um ou outro indivíduo que desenvolveria doenças crônicas modernas para manter o clima de realidade, afinal, um universo simulado sem doenças seria desacreditado por nossas mentes e provocado a temida rejeição, com perdas de safras imensas. O arquiteto já comentara a respeito disso, quando contou à Neo que a mente humana era tão primitiva que quando as máquinas criaram uma versão de matrix repleta de felicidade e sem dor, a mente humana rejeitou a simulação, provocando o despertar e o caos nas safras humanas e a consequente perda de milhares ou milhões de indivíduos.
Bom, neste caso, a maioria dos humanos cultivados receberia nutrientes saudáveis para garantir um bom fluxo energético para os seus algozes, as máquinas. A lógica é impecável.
A parte mais interessante é que as máquinas dariam à mente humana os sabores extremos dos quais tanto adoramos como o super salgado, o doce e as gorduras, talvez até as combinações mais aterradoras delas como bacon com sorvete! Por quê? Para as máquinas tanto fazia se o que introduziam no corpo seria nutrientes saudáveis na sua maioria. Mas para quê agradar nossa mente? Bem, temo que a culpa é da nossa estrutura cerebral. O cérebro humano evoluiu para gostar de alguns sabores e não aceitar outros focado na sobrevivência do corpo, competitividade com outros animais e procriação. Em um ambiente inóspito e escasso precisávamos sobreviver atingindo um mínimo energético que mantivesse nosso corpo funcionando, com proteína suficiente para desenvolver nosso corpo e manter um nível de manutenção orgânica aceitável. Mais que isso, precisávamos ter mais que outros animais para fugir e se esconder, mais tarde até caçar estes mesmos bichos e até competir com outras tribos de nossa mesma espécie. Por fim, precisávamos conseguir se reproduzir em número suficiente que mantivesse nossa espécie galgando os degraus de evolução física, social e mental frente a concorrência por alimento e espaço. Toda essa conjuntura provocou em nosso cérebro alterações estruturais indeléveis e imutáveis. Com este cérebro estaríamos aptos a sobreviver em qualquer ambiente... desde que inóspito e escasso.
Chegamos finalmente à questão final, nosso ambiente hoje não poderia ser chamado apropriadamente de inóspito e escasso. Afinal, podemos tomar quanto refrigerante quisermos, acompanhados de pastéis e hambúrgueres cheios de queijo derretido e catchup todo dia se assim desejarmos. Podemos encher a barriga de salgados e cerveja, sentados confortavelmente em uma poltrona enquanto o nosso maior esforço é erguer a latinha. Podemos comer bolos e tortas super doces sem contar as balas e bombons. Chocolate? Ok, não falarei do chocolate, pois também adoro chocolate!! Frituras maravilhosas e crocantes, picanhas com aquela gordurinha super saborosa, torresmos e costelinhas de porco. Que tal uma feijoada bem gorda a hora que quiser? Só na quarta e no sábado? Se você estiver de dieta... caso contrário feijoada dia sim dia não é uma boa pedida.
Mas a segunda-feira chega, ela sempre chega, e percebemos que estamos mais gordos, menos dispostos e com um sentimento de culpa esmagador, proporcional aos abusos. Esse meio de vida ou, mais adequadamente, "meio de destruição da vida" leva quase que invariavelmente a um quadro clínico muito pior. Convivemos e morremos com obesidade, diabetes, hipertensão, doenças cardiovasculares, câncer, doenças de todas sorte desenvolvidas e fortalecidas graças a essa alimentação introduzida, manipulada e incentivada fortemente pela indústria alimentícia.
Você deve estar se perguntando porque pela indústria alimentícia se sou eu que como, compro e muitas vezes até preparo os meus alimentos?
Michael Pollan em seu livro "Regras da Comida - Um manual da sabedoria alimentar", não tem a menor piedade das indústrias alimentícias em suas colocações. Chega mesmo a criar uma regra proibindo o consumo de alimentos que são anunciados via televisão. Pollan cita fato interessante que absolve os alimentos em si como culpados de nossos males modernos, culpando, naturalmente a manipulação industrial. Ele chama de dietas tradicionais as culturalmente criadas e mantidas por povos tradicionais. Dietas a princípio pouco indicadas por qualquer nutricionista ocidental. Senão vejamos, os inuítes da Groenlândia subsistem principalmente de gordura de foca. Alguns índios da América Central se alimentam sobretudo de milho e feijão. Os massais, na África subsistem basicamente se alimentando de uma mistura de sangue de gado e leite, dieta altamente proteica que arrepiaria dos nutricionistas mais radicais até o dr. Atkins (mentor de uma dieta da moda baseada em alto consumo de proteínas e gorduras e baixo de carboidratos). Essas dietas, deveriam não ser tão saudáveis, contudo, estes povos não são suscetíveis a essas doenças crônicas, ou seja, sequer conhecem estas doenças que assolam nossas vidas. Pollan conclui que não há como definir uma dieta humana ideal, contudo, é possível eliminar a dieta moderna, a nossa como ideal, aliás, ele atribui a nossa indústria alimentícia e nosso meio de vida moderno o mérito de criar a única dieta que deixa as pessoas doentes! Em tempo, ele atribui o aumento da expectativa de vida a outros fatores como o avanços na área da saúde e queda de mortalidade infantil.Por fim, afirma categoricamente, baseado em estudos e pesquisas, que quem suprime a dieta ocidental moderna vê a saúde melhorar drasticamente, reduzindo a chance de ter doenças cardíacas coronarianas em 80%, diabetes tipo 2 em 90% e câncer em 70%, mesmo vindo de um histórico alimentar reprovável. Ou seja, mude agora que ainda há tempo!
Sordidamente, a indústria alimentícia utilizou de nossa inata fraqueza por alimentos salgados, doces e gordurosos criando alimentos carregados destes itens que são irresistíveis para qualquer pessoa munido de um cérebro ávido por energia e programado para sobreviver em ambientes inóspitos. Estes três sabores foram nossa salvação em tempos escassos e agora é nossa ruína na mão de industriais inescrupulosos. Repare nossa natural repulsa por amargos em geral visto que a maioria dos venenos tem essa característica. Quem troca jiló por chocolate afinal? Nosso cérebro evolui para sobreviver.
O sal, salvo em ambientes marinhos e litorâneos é escasso em sua forma bruta. Não é à toa que borboletas se acumulam sobre a urina em florestas tropicais. Algumas chegam a pousar nos olhos de algumas tartarugas em busca do raro mineral.
Na bíblia, em Mateus 5, versículo 13, encontramos um elogio de Jesus Cristo aos homens: "Vós sois o sal da terra; e se o sal for insípido, com que se há de salgar? Para nada mais presta senão para se lançar fora, e ser pisado pelos homens".
O sal da terra na época de Cristo era algo raro e valioso. Basta lembrar que o pagamento dos soldados romanos já fora feito em sal, na época uma cara iguaria que poderia ser trocada por muitas coisas, a exemplo de nossa cachaça de Salinas, oferecida como pagamento aos empregados que a fabricam. Deste pagamento em sal deriva o nome soldo, o salário romano (mesmo a palavra salário deriva de sal).
A gordura é outro item escasso, visto que os animais não criados em cativeiros são atléticos e possuem pouca gordura se comparados com nosso sedentário gado. A gordura era o segredo do sucesso de muitos predadores de sucesso. Atualmente podemos observar que o urso pardo, o maior urso do mundo, se alimenta basicamente da barriga do salmão, parte mais rica em gordura, dispensando todo o resto (que a natureza acaba reaproveitando, por meio de animais que se alimentam da carcaça e a carregam para dentro da mata), ficando apto para dormir pelo período de inverno e escapando de uma época de escassez extrema. Claro que nossos hábitos predadores estão reduzindo o número de salmões e assim, obrigando o urso a comer o peixe inteiro, o que desencadeia um processo que acaba por tornar as matas da América do Norte menos fecundas e, acredite, mais propensas a erosões devido a camadas vegetais menos densas, favorecendo um desiquilíbrio ecológico que nem imaginamos, mas aí já estou desviando demais do assunto. Acumular gordura no corpo já foi um deferencial evolutivo positivo, visto que era uma reserva estratégica estratégica fantástica. Enquanto os indivíduos magros morriam de fome, os mais gordos tinham uma sobrevida que garantia a sobrevivência da espécie. Para a tristeza das mulheres o corpo feminino é mais propenso a acumular gordura. Por quê? Porque ela deve priorizar a vida do feto que deve ser carregado e alimentado por nove meses. A gordura neste caso, seria a arma secreta do corpo feminino que teria energia acumulada para manter o feto vivo nos comuns períodos de maior escassez em um ambiente já hostil.
E o acúcar? O que se encontra na natureza que seja doce? Frutas. Isso porque a natureza quer que você se alimente deles de forma a ingerir e espalhar as sementes das plantas. Trocamos a manipulação das árvores frutíferas pela manipulação da indústria de doces. Troca, sem sombra de dúvida, péssima.
Evoluímos tecnicamente muito rapidamente se comparados com a capacidade de adaptação do corpo. Nosso progresso acelerado e capacidade de mudar nosso meio de vida radicalmente está sendo nossa ruína, contudo, a indústria focada em dinheiro e não na sua saúde, aproveita dessa distorção para acumular riquezas às custas da saúde e vidas de milhões. Sugiro despertar agora desta matrix alimentar e retornar ou, pelo menos, dar tempo para que nosso corpo se adapte às inevitáveis mudanças modernas. Afinal, como ter um tomateiro em casa e uma vaquinha para um saudável leite integral? Mas é possível sim reduzir os alimentos industrializados drasticamente. Acorde para um mundo mais natural e não seja vítima de uma indústria que nunca focou sua saúde mas o seu dinheiro. Se conseguir, vai reduzir muito a chance de morrer de diabetes, câncer, hipertensão e doenças coronarianas. Saúde e um excelente ano de 2016 a todos!

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