Grandeza mediante a humildade


GRANDEZA MEDIANTE A HUMILDADE

"Humildade é uma coisa estranha. No momento em que acha que teve, você perdeu"

Sir Edward Hulse


Os romanos lançavam mão de vários vocábulos para designar terra ou solo: tellus, húmus, solum. Do primeiro é usado apenas eruditamente, através do adjetivo telúrico (ligado à terra). Já húmos tem relação etimológica com humilde e até homem. Húmus é também a camada mais fértil do solo.


Interessante verificar a ligação da humildade com solo e solo a homem. Solo e homem é bem bíblico, até porque o homem foi feito do barro pelo Criador. Mas e a ligação de solo com humildade? Poderíamos inferir que o homem que se humilha fica na condição intrínseca do solo, ou seja, não se eleva. Mas lembrando da parábola do semeador:


E aconteceu que semeando ele, uma parte da semente caiu junto do caminho, e vieram as aves do céu, e a comeram;
E outra caiu sobre pedregais, onde não havia muita terra, e nasceu logo, porque não tinha terra profunda;
Mas, saindo o sol, queimou-se; e, porque não tinha raiz, secou-se.
E outra caiu entre espinhos e, crescendo os espinhos, a sufocaram e não deu fruto.
E a outra caiu em boa terra e deu fruto, que vingou cresceu, e um produziu trinta, outro sessenta, e outro cem.
Marcos 4:4-8


Baseado na parábola, mais interessante seria inferir que a humildade é o húmus que fertiliza o homem, ou seja, uma vez plantada a semente de Deus (sua Palavra) no homem, esta germinaria e produzia tantos frutos quanto maior humildade houver em seu coração.


Devemos ser humildes? Sem dúvida. A Bíblia está recheada de passagens que enfatizam a humildade de caráter como um contraponto do orgulho em todas as suas formas.


A passagem de João 13, onde Jesus lava os pés de seus seguidores é emblemática. Veja que o Jesus, o próprio Deus, se curva e se põe a lavar os pés dos seus discípulos.


Mas o que seria exatamente a humildade bíblica?


Quando Tiago e João pedem posições de honraria ao lado de Jesus quando da vinda de seu Reino de que era desejoso o coração dos irmãos? (Questão 4).


Se considerarmos que eles ainda mantinham vivo em seus corações de que o reinado de Jesus seria neste mundo ainda, então eles estariam se referindo a cargos e posições terrenas. Isso estaria errado?


Se o desejo se fundar no desejo pessoal de projeção social, reconhecimento, ganância, glória pessoal, posição de prestígio ou qualquer outro anseio de nosso próprio ego, com certeza não é o que Cristo nos ensinou a praticar.


Neste caso, cargos de liderança ou de projeção social são inaceitáveis ao cristão?


Claro que não. Veja que a Bíblia tem casos de homens tementes a Deus que tiveram projeção, reconhecimento, liderança e influência. José foi governador do Egito. Davi foi Rei. Abraão e Moisés foram líderes. A humildade reside no coração e não nos títulos terrenos. Perceba que o Rei Davi, quando utilizou de seu cargo para benefício próprio, ou seja, sem a humildade necessária que caberia a um servo de Deus, se arrependeu amargamente.


A vida do cristão, igualmente, não deve ser focar em valores terrenos. Ao cristão não cabe o usufruto puro e simples das coisas deste mundo, mas o serviço com todas as suas dificuldades e desafios inerentes.


Após o pedido de Tiago e João, Jesus responde apenas indagando se eles sabiam mesmo o que estavam pedindo, pois estar com Cristo talvez não fosse um mar de rosas.


Ao serem indagados eles respondem afirmativamente, se considerando dispostos a beber do cálice de Cristo e serem batizados com o mesmo batismo do de Jesus.(questão 5)


Jesus, então lhes concede o que pediram. Ambos não tiveram vidas fáceis, mas de fato serviram a Cristo com muitas dificuldades, sacrifícios e sofrimento. Afinal, ser braço direito ou esquerdo de Cristo seria, de fato, um cargo de honraria no sentido de que seguiria os mesmos passos de Jesus.


E o que se passava no coração dos demais seguidores quando sabendo do pedido dos irmãos se zangam? (questão 6 e 7)


Talvez os outros dez tenham agido de forma mais mesquinha, na medida em que além de total ausência da humildade, pois também desejavam um cargo terreno no reino de Cristo, também se mostraram invejosos quando pressupuseram que Tiago e João poderiam ter conseguido posições melhores por terem pedido primeiro.


Em Lucas 15:11-32, temos o episódio conhecido como o filho pródigo. Nesta parábola, o irmão mais velho ao presenciar a felicidade do pai em receber seu tolo irmão no seu inesperado retorno, tem uma reação que magoa muito seu pai. O irmão  mais velho se sente injustiçado já que nunca saiu do lado de seu pai e sempre viveu segundo seu mandamento, ao contrário de seu ingrato irmão que saiu para dilapidar sua parte da herança adiantada. Ao irmão mais velho, em que pesa sua boa conduta, não caberia julgar seu irmão ou o criticar o perdão de seu pai. Faltou-lhe humildade. A falta desta qualidade o fez agir de forma mesquinha a ponto de até ficar cego perante a alegria de seu pai e até a gratidão de seu irmão por ter sido recebido de volta.

Também vale lembrar a passagem de Lucas 18:10-14:

Dois homens subiram ao templo, para orar; um, fariseu, e o outro, publicano.
O fariseu, estando em pé, orava consigo desta maneira: Ó Deus, graças te dou porque não sou como os demais homens, roubadores, injustos e adúlteros; nem ainda como este publicano.
Jejuo duas vezes na semana, e dou os dízimos de tudo quanto possuo.

O publicano, porém, estando em pé, de longe, nem ainda queria levantar os olhos ao céu, mas batia no peito, dizendo: Ó Deus, tem misericórdia de mim, pecador!

Digo-vos que este desceu justificado para sua casa, e não aquele; porque qualquer que a si mesmo se exalta será humilhado, e qualquer que a si mesmo se humilha será exaltado.

Um pouco mais adiante, em Lucas 18: 18-22 um jovem rico pergunta a Jesus o que faltaria para herdar a vida eterna. Jesus então responde que deve seguir aos mandamentos e a resposta do jovem não é nenhum pouco humilde: "Todas estas coisas tenho observado desde a minha mocidade". Interessante notar que o jovem rico provavelmente seguira de fato os mandamentos desde criança, mas ele queria ouvir dos lábios de Jesus a aprovação bem como mostrar a todos que observavam o quão santificado fora sua vida. Ao receber a desaprovação de Jesus que alegou que lhe faltava algo, ou seja, vender tudo que tinha e dar aos pobres, este simplesmente se retirou. Claro ficou que sua devoção era pela riqueza e desta não poderia abrir mão.


Humildade e subserviência


Devemos buscar a humildade de nossos corações. Mas devemos, ao mesmo tempo, ser fieis a palavra de Deus. Assim, ser humilde não significa acatar ao posicionamento alheio apenas para evitar conflito ou mesmo se depreciar. Não podemos nos esquecer que fazemos parte da obra da criação, feitos a imagem e semelhança de Deus. Como ensinou Ziel: Deus não abandonou sua criação, que continua sendo boa como era desde o início dos tempos.
 Deus nos quer com coração humilde, humilde perante o próximo e cientes de que somos parte importante de sua criação. Tão importante que foi para nos resgatar que Ele mandou seu único filho para morrer. Para nos ensinar a amar uns aos outros. Para nos ensinar que não precisamos de cargos. Para nos ensinar que não precisamos de poder. Para nos ensinar uma lição de humildade máxima, Deus se fez homem e se ajoelhou perante sua criação. Este Deus de amor que nos criou, nos resgatou e voltará para nos dar seu Reino no fim dos tempos. E quando isto ocorrer, não será por nosso mérito, não será por nossos esforços, não será por nossa inteligência, mas pela graça de Jesus que não abandonou sua criação jamais. Que sempre a considerou boa e nos fez kainos e não neos. Não somos novos, mas refeitos pela misericórdia e graça de Deus. Assim, a humildade é o caminho. A humildade leva ao amor e ao amor verdadeiro ao próximo. Sem comparações, sem disputa, sem julgamentos, sem ressentimentos, sem inveja e sem egoísmo. A humildade é o que torna fértil nosso coração de forma que frutifiquemos em bons frutos. Sejamos então humildes, segundo os ensinamentos de Deus.

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