Somos livros velhos



Um amigo meu, um dia desses, me mandou um e-mail (até isso está ficando ultrapassado) com um texto muito interessante. Era um texto atribuído a um tal de Vasques e dizia o seguinte:

O homem pode ser lido. A vida é análoga a um texto. 
A hermenêutica contemporânea estende esta noção para todos os campos da existência humana. 
Assim como um texto a vida expressa sentimentos construídos através da leitura, da interpretação e da compreensão. 
Dessa maneira leitura torna-se uma metáfora para problematizar a pluralidade das formas de ser e estar, incluindo fenômenos sociais, culturais, educacionais, subjetivos.
Somos todos livros/textos inacabados a espera de leitores generosos.

Gostei muito da analogia, mas o engraçado é que me senti velho com o texto. Eu me senti um autêntico livro de prateleira, velho e cheio de poeira. E, dentro deste sentimento, acabei respondendo ao meu ilustre amigo Isael as seguintes linhas:

Sim, acompanhando a analogia, as nossas crianças são livros digitais, né?
Ou seja, muita informação em um corpinho compacto, práticos, rápidos, leves, cheio de recursos e assuntos, com uma multiplicidade de assuntos e textos... Mas, nós, os livros antigos, somos mais centrados, corpulentos, acumulamos pó, ficamos muito tempo na prateleira, às vezes temos função até decorativa, mas sabe qual é a maior diferença de nós, livros antigos dos atuais leitores de e-book? Ficamos juntos e assim nos saímos muito bem. Juntos fazemos uma biblioteca suntuosa e cheio de informações. Juntos somos mais poderosos e nos apoiamos mutuamente, percebe que um livro sozinho na prateleira acaba caindo?
Espero que nossos filhos, esses kindles, kobos ou mesmo smartphones com apps que são nossa herança para o mundo, compreendam que a essência da vida, não é o que temos ou o que trazemos dentro ou fora de nós, mas nossas relações e interações, nossas demonstrações de perdão e gratidão, nossos atos de amizade e de amor. Esse é a essência. Os livros velhos como nós aprendem isso bem mais fácil...

Um grande abraço para os meus amigos e velhos livros...

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