PYRGLYPHIDAE - Você nunca mais dormirá sozinho!




Em The Matrix, as pessoas “dormiam” em casulos e sonhavam com uma realidade artificial, sem consciência de que o seu mundo era uma ilusão criada pelas máquinas. Seus corpos, de fato, estavam imersos em uma gosma translúcida e nutritiva que matinha o corpo físico em condições razoáveis de conservação, fisiologicamente falando. A pele não apodrecia, não enrugava nem criava fungos, como poderia acontecer com soluções de base aquosa, por exemplo. Provavelmente, era de base oleosa ou mesmo possuía componentes inertes às células epiteliais. Na verdade, dada a ausência de luz do sol, fica difícil imaginar como as máquinas supriram a necessidade de vitamina D. Uma possibilidade seria a introdução por via venosa da vitamina.
Aliás, os detalhes mais bizarros deste enclausuramento ficavam por conta de inúmeros orifícios induzidos no corpo objetivando "plugar" inúmeros cabos e tubos. Esta rede visava manter a condição de vida do humano em perfeita animação suspensa com saúde suficiente. Constantemente, drones com diversas funções limpavam, operavam, reconectavam, raspavam, cortavam, remanejavam e descartavam partes necrosadas ou corpos inteiros. No mundo virtual, em suas mentes, seus corpos eram perfeitos, sem furos, sem gosma e plenamente ativos e funcionais. Pobre daquela humanidade que, sem consciência de seu verdadeiro martírio, sorria um sorriso virtual de satisfação, contemplando um mundo ensolarado e plácido que não mais existia.
Conosco é bem diferente. Temos consciência de nosso mundo e temos plena noção do que está ao nosso redor. Principalmente quando se trata de nosso corpo. Ninguém toca em nosso corpo sem nossa percepção. Nada acontece sobre nossa pele sem que tenhamos consciência plena. Será mesmo?
Antes de concluir este aspecto, vamos mudar nosso foco para os famigerados agentes da matrix, aqueles programas encarregados de manter a "paz" do sistema, em nossa existência virtual, removendo ou mesmo destruindo os elementos desconectados ou mesmo mal integrados. Eles tinham um poder curioso: podiam assumir o "corpo" de qualquer elemento humano interagindo na matrix. Em outras palavras, eles assumiam a consciência da pessoa, transportando sua própria consciência para dentro dela, provavelmente, destruindo ou debilitando a consciência original permanentemente. Era a morte da essência do "eu", ainda que todo o resto ainda estivesse organicamente funcional. O filme não foi explícito quanto a este ponto, mas provavelmente o corpo perdia a conexão com sua consciência de maneira que este ficaria em um espécie de coma ocasionado pela ausência da personalidade, arrisco dizer "alma". Possivelmente, corpos nestas condições, apesar de não estarem mortos, não mantinham sua saúde plena por muito tempo, ou talvez não eram geradores de energia eficientes de forma que a produção de energia não compensaria a manutenção do corpo em animação suspensa. A questão seria econômica, possivelmente. Relação custo-benefício. Em suma, onde havia uma pessoa dentro da matrix, havia a possibilidade de sua conversão em agente. Coisa difícil de acontecer no nosso mundo, afinal se estamos sozinhos estamos sozinhos e ponto final. Mas você tem certeza absoluta disso?
Bem, vamos ao teste. Quando você acorda pela manhã, acredita que teve uma noite solitária, no máximo em companhia de seu cônjuge? No caso, representado por apenas um par de pés gelados, talvez dois ou três em alguns casos. Acredita que permaneceu seguro em sua cama e protegido pelas cobertas, lençóis e edredons? Crê que ninguém tocou, roçou, cortou, ou mordeu você? Tem absoluta certeza de que não defecaram na sua cara?

Se disse sim, prepare-se para acordar para a realidade e sair do seu casulo (aqui pelo menos não haveria pés gelados). Você não estava sozinho e não estou falando de sua ou seu singelo companheiro roncador, mas de outras criaturas das quais você pode ignorar a presença completamente se contar unicamente com seus sentidos nus. No caso, me refiro a milhões de seres que cobriram não só sua cama, mas todo seu corpo. Chocante, mas real. Estou falando dos ácaros. Estes pequenos aracnídeos (parentes próximos da aranha) estiveram a se refastelar, comendo avidamente as escamas de pele morta no seu corpo e espalhadas como uma finíssima neve por toda sua roupa de cama, colchão, cobertores e até seu cônjuge de pés gelados. Pior ainda, tanto quanto comem, defecam sem nenhuma cerimônia. Eles estavam ao seu lado e estiveram a maioria de suas noites, para não dizer todas em sua companhia, aqui também não necessariamente eram os mesmos todas as noites. Mas, sim, vocês já seriam bem íntimos. Estou falando de um número tão grande que poderiam chegar a constituir cerca de um quarto do peso do travesseiro após cerca de dois anos de uso. Ou seja, quase um quarto do peso do seu travesseiro seria constituído de ácaros vivos e mortos, além de suas fezes e escamas de pele morta... não é à toa que ele é tão fofinho. Nem queira saber de seu colchão velho!

Colocar o travesseiro no sol talvez acabasse com esta palhaçada. Só que não. O calor não é suficiente para matar estes bichinhos em profundidade. Na verdade, o mais provável é que no núcleo do seu travesseiro as condições de vida do ácaro melhorem, induzindo a mais proliferação! Coloque fogo neste travesseiro antes de continuar lendo.

Mais um equívoco causado por nossa petulância em acreditar que temos consciência plena de tudo do que nos cerca. Basta ser pequeno suficiente que achamos que não está lá. Mesmo se for suficiente grande também não temos consciência: tente imaginar uma distância de um ano-luz. Esta distância equivaleria ao trajeto percorrido pela luz em um ano de maratona! Percebemos apenas as cores que nos permitem as nossas células no fundo dos olhos. Vários tipos de radiação nos são invisíveis. Sons fora da nossa faixa auditiva também não existem para nós. Cheiros sutis nos passam despercebidos. De qualquer forma, tudo isso nem reflete a realidade. Tudo é uma versão ou uma interpretação cerebral das coisas que nos cercam, aliás, de algumas coisas que nos cercam. Biologicamente, a tendência é que nossa espécie interprete de uma mesma maneira. Mas não temos sequer esta garantia. Por diferenças fisiológicas, deficiências ou mesmo maneiras diversas cerebrais de interpretação o que vemos é tão pessoal quanto nossas personalidades.
Por isso tudo, que tal deixar a arrogância um pouco de lado? Vivemos em uma realidade aceita e padronizada, porém longe de ser a verdade. Vivemos em uma ilusão, ponto final.  Apenas a nossa arrogância nos convence de que sabemos o que é real. Talvez vivamos em uma ilusão dentro de outra ilusão. Saber disso nos liberta. Para a espiritualidade, para o viver, para o amor. Somos nada com a certeza de ser tudo, assim ser algo com certeza de ser pouco é indistintamente melhor. Pois nos faz sentir ser dependentes uns dos outros, ter uns aos outros, confiar uns nos outros, ser gratos uns pelos outros e, mais importante, delegar a Deus nossas maiores dúvidas e preocupações.

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