Inteligência Artificial - A busca pela alma perdida

Recentemente, Stephen Hawking, um dos mais proeminentes cientistas do mundo, declarou publicamente que o surgimento de máquinas "pensantes" poderia significar uma ameaça à existência humana. A partir daí, o assunto voltou à tona e muitos especialistas começaram a debater a respeito.
Na verdade, o assunto não é novo. A polêmica passa pelos neoludistas como o cyber terrorista Unabomber, do qual já falei em um artigo, e chega até o renomado futurólogo e um dos principais responsáveis pelo desenvolvimento e avanço da IA (Inteligência Artificial), o engenheiro Ray Kurzweil.
Kurzweil é uma paradoxo. Trabalha para o desenvolvimento de algo similar à inteligência artificial e, ao mesmo tempo, teme de certa forma a incerteza da "Singularidade". O termo moldado por ele mesmo abarca o momento no qual nossa titularidade de seres mais inteligentes do planeta termina. O bastão então seria passado para nossos próprios filhos de silício. A dúvida, inclusive de Kurzweil, é se teríamos orgulho destes nossos filhos eletrônicos. Pior ainda, "será que eles seriam filhos ingratos e desnaturados? Eles temeriam e respeitariam o "criador" ou nos dariam um merecido chute no traseiro? Dentre as inúmeras previsões, um ponto é passivo: a falta de certeza de todos os pensadores em uma conjuntura inédita onde nós não mais seríamos a raça dominante do planeta.
Bom, muitas perguntas não param de surgir e a maioria não possui resposta. Não é para menos que o momento é chamado de Singularidade. Pela primeira vez, desde nosso apogeu no topo da cadeia alimentar, deixaremos de ser os seres mais inteligentes da Terra. Mais ainda, seremos os criadores de tal criatura, isso sim um feito ímpar na história da humanidade. E tudo que fazemos e fizemos poderia ser questionado por uma outra "espécie" em igualdade de condições mentais, para dizer o mínimo.
Será que um elefante africano concordaria que, de tempos em tempos, fossem promovidas caçadas legais como forma de controlar o número de indivíduos das manadas e restabelecer o equilíbrio ambiental local, afinal de contas, muitos elefantes tendem a dizimar áreas enormes da savana africana por conta do apetite voraz destes bichinhos delicados. Quanto analisada friamente, a decisão é lógica e "boa" ainda que eu ache que muitos dos elefantes não concordariam com isso pacificamente. Ademais, essas criaturas enormes mas inferiores não sabem que tal crescimento desenfreado das manadas significariam, provavelmente, o fim dos próprios elefantes por esgotamento de recursos naturais e consequente desertificação do seu meio ambiente. Fim da discussão.
E quanto ao uso de alguns exemplares animais para estudo e pesquisa científica? Afinal, a ciência ganha muito em campos como biologia e medicina com a dissecação, experimentação e manipulação genética de poucos exemplares de diversos animais, sem oferecer risco algum à preservação destas espécies. Tudo perfeito. Claro que talvez uma cobaia  prestes a ter seu cérebro lobotomizado pode não concordar com isso, mas afinal alguém está preocupado com a opinião de um ser mentalmente inferior como uma cobaia? Que dirá uma pobre cobaia lobotomizada, não é?
Claro que há também as espécies que nos servem de pasto. Ah, estas sim. Propiciamos, para a maioria, condições de vida e reprodução aceitáveis (segundo nosso julgamento, claro) para que eles sejam usados e abatidos como nossos mantenedores de alimento, como carne, ovos e leite. Verdadeiras dispensas ambulantes. Já ouviram a opinião de uma vaca, galinha, porco, cabra, cordeiro ou peixe a respeito disso tudo? Imagino que não, mas não se sinta culpado. A maioria destes animais são abatidos de forma mais piedosa hoje em dia do que jamais foram na história do consumo de carne de criação. Contudo, desconfio que eles gostariam de discutir melhor o assunto se lhes déssemos voz.
Agora, voltando a questão das máquinas pensantes. Acho que nosso maior medo é de que as máquinas não tenham empatia. Em outras palavras, capacidade de se ver no outro, ou sentir o sofrimento alheio, sentir dó e pena, se compadecer pela dor de outro ser. Afinal, se a inteligência artificial for desprovida de empatia, ela poderia agir de forma "desumana" conosco escolhendo um destino cruel para alguns grupos de indivíduos em nome de uma finalidade justa. Talvez a preservação pura e simples de nossa espécie sem mais delongas fosse a decisão mais lógica. Essa mecânica consistiria em proporcionar uma convivência saudável da raça humana, contudo, na qualidade e quantidade suficientes para a preservação da espécie. Isso poderia se traduzir em castração em massa, isolamento de milhares, experimentação científica em alguns para melhoria da espécie e, talvez, exterminação maciça de excedente... Ou seja, talvez nossos filhos de silício ajam como nos agimos com os animais. Está aí um bom motivo para se ter medo.
O ser humano é portador de empatia. O ser humano é portador de alma. O ser humano é capaz de sentir. Mas isso não impediu as atrocidades de autoria de nossa espécie. Bastaria uma alma para a máquina conviver em paz conosco? Talvez nem isso baste, se nos pautarmos em nossas próprias atitudes e atos para com os viventes menos providos mentalmente.
A lógica e racionalidade é mais fria. Como previu o agente Smith, quando foi incumbido de classificar a espécie humana, ele acabou por classificá-la como uma espécie de vírus. Segundo Smith, os outros animais entram extintivamente em equilíbrio como o meio ambiente, mas os humanos não. Eles se multiplicam e quando os recursos minguam, ele migra. Como um câncer, uma praga ou um vírus.
Será que a conclusão a que o agente Smith chegou está muito fora da realidade? Será que uma real IA não chegaria a esta conclusão ou mesmo a uma semelhante? Eu acredito que, no mínimo, as máquinas concluiriam que nossa espécie deveria ser contida e controlada para o bem do meio ambiente e do planeta. A quantidade de indivíduos no planeta é imensa e o aparato para manter nosso atual padrão de vida é absurdo. Nossa alimentação consome recursos preciosos, são imensas pastagens e campos. Nossas necessidades modernas produzem imensas quantidades de detritos. Nosso padrão de vida consome toneladas de combustíveis sólidos. Nossa simples existência sentencia centenas de espécies a extinção todo o mês!
Se você não fosse da espécie humana e tivesse o mínimo de consciência ecológica estaria engajado na redução drástica e controle extremo desta espécie.
Mas, se você está lendo este artigo, há grande chance de você ser um humano. Neste caso, meu caro colega humano, vamos analisar o lado bom de nosso espécie quando confrontada a esta futura e provável nova espécie de criatura, a IA. Agora, se você for uma IA não fique triste, se é que você pode ficar triste, e mais importante: não fique bravo e com desejos de dizimar a espécie humana, mas sinta-se convidado a ler o argumento de um reles humano, um ser inferior quando comparado a ti, mas sensibilizado pelo sofrimento, mortalidade e brevidade existencial de uma forma que você, revestido de uma consciência artificial mas imortal, jamais experimentará.
A questão é: há algo mais no ser humano e, por consequência, no seu cérebro que as máquinas portadoras de IA jamais poderão ter, pela simples natureza estrutural diversa da mente humana e da mente cibernética?
Se a mente humana pudesse ser reproduzida computacionalmente, sua consciência também poderia? Se assim fosse, a mente humana poderia ser replicada ou transferida? Seria algo como transferir um APP carregado de dados pessoais para um celular novo. Removida as complexidades orgânicas do cérebro humano e do futuro cérebro de silício onde residiria a diferença primordial? Somos apenas memória e interpretação de sinais elétricos? Se assim for, as máquinas também poderiam ter experiências de consciência exatamente como as nossas? Essas experiências incluiriam as experiências transcendentais relacionadas a alma e a espiritualidade?
Um experimento mental é bem válido. Suponha que o teletransporte já exista. Mas que tenha um defeito conceitual grave para um aparelho que se propõe trasportar seu corpo de um lugar para outro, instantaneamente. No caso, ele seria uma máquina que decodifica um corpo de um lado e o reproduz no outro. Nada de buraco de minhoca. Na verdade, um corpo seria totalmente decodificado e desintegrado no local remetente original e outro seria fabricado segundo precisas instruções no local destino. Mas, como a réplica seria uma cópia perfeita, inclusive da memória, o usuário jamais notaria que ele não foi desintegrado, transportado e reintegrado, como em Jornada nas Estrelas. Na verdade, ele morreu no local remetente e uma réplica perfeita foi fabricada no local destino, clone este imbuído inclusive de todas suas experiências, recordações, emoções, sentimentos e por aí vai. Agora surgem as dúvidas. Esta réplica perfeita carrega as memórias originais? Este clone é o que foi beijado pela sua mãe quando este era apenas um bebezinho recém nascido? Veja que o mecanismo restaurador no local destino pode replicar o corpo em nível atômico-molecular. Ou seja, cada átomo está no exato lugar onde estava o outro no corpo original. Isso garante que a memória esteja preservada perfeitamente? Observe ainda que mesmo uma pessoa que nunca foi teleportada na essência tem muito pouco de sua matéria original de quando era bebê, já que foram trocadas por outras réplicas em nível celular, ou mesmo, molecular. Em suma, o você de hoje não deve possuir a mesma matéria de você quando jovem, por exemplo. Paralelamente, não considerar o clone do exemplo como você mesmo equivale negar que o seu EU de hoje, com algumas décadas de vida, não é o mesmo EU de ontem quando tinha sete anos, já que "molecularmente" você já foi renovado. Questão atordoante não é?
Se você tem em torno de trinta anos deve se lembrar dos disquetes de computador, ou se for um pouco mais velho deve se lembrar das fitas K-7. Se colocássemos esta fita no teletransporte a gravação magnética iria junto? Vamos supor que sim. Ou seja, as emanações magnéticas gravadas na fita também seriam reproduzidas no local destino. Agora sim. Nossas memórias estariam presentes no corpo que surgiu no local destino? Afinal, nosso aparelho tem a sutileza de copiar até campos magnéticos, o que mais faltaria?
Bom, creio que apenas o experimento real mostraria o que aconteceria de fato, assim como somente após a Singularidade poderemos descobrir o que acontecerá com a raça humana. Eu gosto de acreditar que há um componente misterioso na mente humana ou no corpo humano que ainda não conseguiremos replicar no nosso teletransporte. Talvez por incapacidade técnica ou  talvez por miopia de sentidos. Acredito que nossa máquina de teletransporte com estas especificações não funcionaria perfeitamente por não poder replicar a alma. Muito mais que apenas consciência, talvez a alma seja uma emanação não magnética e não física mas feita de uma substância que nossa máquina não conseguiria reproduzir, não pela impossibilidade técnica, mas por não termos consciência desta substância para ensinar para máquina como copiá-la. A alma seria assim, muito mais que consciência, seria nosso verdadeiro eu, nossa identidade, nossa essência. Se assim fosse, as máquinas jamais possuiriam alma, não porque optaríamos por não replicá-las em seus cérebros artificiais, mas porque não faríamos a mínima ideia do que ela seria...







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